segunda-feira, 31 de março de 2014

1964 em RO:Longe de tudo, Porto Velho também viveu 31 de março



Parte 1

Lúcio Albuquerque
(Consultoria Abnael Machado de Lima)

Porto Velho 70 mil habitantes. Guajará-Mirim em torno de 20 mil. Conforme o censo do IBGE em 1960 rondava por aí a população do então Território Federal, que quatro anos antes deixara de ser do Guaporé para ser de Rondônia. Em 1964 é possível que a população já fosse um pouco maior, mas, oficialmente, o número é mesmo aquele, 90 mil almas.
As distâncias eram muito maiores do que hoje. Havia apenas um juiz e um promotor, isso quando havia. A segunda instância era em Brasília onde os recursos daqui mofavam anos nas gavetas dos membros do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Emissora de rádio apenas a Caiari, fundada poucos anos antes, mas só uma minoria de famílias tinha um aparelho de rádio, em redor dos quais, à noite, amigos se reuniam para ouvir a Voz do Brasil, por onde se ficava sabendo das novidades – com em 1943 quando foi lido o decreto de criação do Território do Guaporé, juntando partes dos estados do Amazonas e de Mato Grosso, ou quando acontecia troca de governadores, o que era coisa comum, fato imediatamente festejado com foguetes pelos adversários de quem estava no poder.
Chovia muito naquela noite de 1943 e o doutor Ary Pinheiro comemorava em casa o seu aniversário e ele saiu com uma espingarda comemorando atirando para cima, recordou o historiador e também membro da Academia de Letras de Rondônia, ACLER Esron Penha de Menezes, fato contestado, apesar de àquela altura contar apenas com 4 anos de idade, pela historiadora e membro da ACLER Yêda Pinheiro Borzacov.
Apesar de ser o que consideravam àquele tempo um funcionário subalterno, o telegrafista da agência dos Correios era muito assediado por saber das notícias antes de todos. Poucos moradores, um deles o Sr. Alcedo Marrocos, possuíam um rádio-amador, sistema que permitia comunicar-se com outras cidades, sendo que um desses equipamentos era instalado no quartel comandado pelo major Carlos Godoy, da 3ª Companhia de Fronteira – atual 17ª Brigada de Infantaria de Selva. Os jornais locais eram o Alto Madeira O Guaporé. A “emissora” mais rápida era a rádio cipó.
Os aviões  de carreira pousavam no campo do Caiari – região que vai do ginásio Cláudio Coutinho até ao CPA do Governo, e isso era uma atração enorme, para ver quem saía ou chegava, e para a garotada pegar poeira, o vento levantado pelas hélices. Outra forma de chegar era pelos navios – Lobo D’Almada, Augusto Montenegro e Leopoldo Peres, que faziam a rota Belém/Manaus/Porto Velho. Ou pela Madeira-Mamoré, com seus trens entre Porto Velho e Guajará-Mirim. A cidade não tinha ainda telefonia interurbana.
A rodovia era a BR-29, primeira designação da atual BR-364, mas as condições da estrada eram terríveis, o que incluía falta total de estrutura, sem pontos de apoio e era uma enorme aventura viajar nela que fora aberta no primeiro semestre de 1960.
Durante o dia, e até a noite, quando se queria ficar sabendo das novidades a pedida era ir aonde todossabiamtudodetodoomundo, o restaurante Café Santos, na esquina da Sete de Setembro com a Prudente de Moraes. Outros locais também apreciados eram os clíperes, espécies de botecos no meio da Sete de Setembro, e o restaurante Arara. Luz elétrica ia até zero hora, a partir de quando começava a funcionar a boate Céu, com seu salão de dança em baixo e os quartos no andar superior, nas proximidades do cemitério dos Inocentes.
A economia tinha como base o sistema extrativismo vegetal, o que incluía a borracha e o dinheiro que circulava era oriundo do pagamento dos funcionários federais, com destaque para os ferroviários da EFMM. Àquela altura outro produto começava a se firmar na economia local, e a atrair homens e mulheres especialmente do Maranhão, a garimpagem manual de cassiterita, descoberta por acaso nas terras do seringalista Joaquim Pereira da Rocha.
Havia duas agências bancárias, a do Banco do Brasil e a do Banco da Borracha (atual Basa). Seus funcionários formavam uma espécie de classe privilegiada e tinham até um clube, o Bancrevea (Carlos Gomes com a Campos Sales), aonde as mulheres iam às festas de longo e os homens de passeio completo. Nos finais das tardes a pedida era ficar no bar do Porto Velho Hotel, numa espécie de hapy hour.
Aos domingos as disputas de futebol eram no campo do Ypiranga ou no da 3ª Companhia, quando as torcidas participavam com o mesmo fervor por suas preferências e por seus atletas principais.
Apesar de ser uma cidade pequena, Porto Velho fervilhava quando o assunto era política. Não havia terceira opçãoA disputa política ficava entre cutubas partidários do coronel Aluízio Ferreira e os peles-curtas liderados pelo médico Renato Clímaco Borralho de Medeiros que em 1962 derrotara nas urnas Aluízio e se tornara deputado federal.
Quando 1964 chegou havia sindicatos atuantes e a União dos Estudantes, que realizava concursos de rainha, mandava delegações para participar de congressos em outras cidades, mantinha um jornal devezemquandário, e naquele ano o presidente da entidade era o estudante João Lobo que em entrevista ao projeto Testemunha da História lembrou ter ido com uma delegação ao Comício das Reformas de 13 de março de 1964.
No Colégio Carmela Dutra um fato interessante: muitos dos professores eram bancários ou militares da 3ª Cia. Lógico que eles mantinham um relacionamento formal, mas
politicamente eram inimigos, enquanto a diretora, a professora Marise Castiel tentava contornar para evitar que essa divisão se refletisse de forma negativa no processo educacional, lembrou o professor e historiador Abnael Machado de Lima, membro fundador da ACLER.
Quando a cidade adormeceu no dia 30 de março, uma segunda-feira, ninguém esperava que o dia seguinte, uma terça-feira, seria o divisor das águas.

Amanhã:
1964 em RO (2)
O homem invisível entra em ação

HISTÓRIAS DE ELEIÇÕES 1

EMPRENHANDO A URNA INVIOLÁVEL

Era nos tempos das disputas entre cutubas (*) e peles-curtas (**), entre partidários do coronel Aluízio Ferreira e do médico Renato Clímaco de Medeiros, nos tempos do Território Federal em que a Justiça era apenas, quando tinha, um juiz e a segunda instância no Rio de Janeiero (depois em Brasília), no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, onde as
apelações daqui acabavam desaparecendo com a priorização das ações da própria Capital Federal.
O causo presente se deu no tempo das disputas brabas, aí pela década de 1950/1960, quando a Justiça eleitoral funcionava numa casa onde, depois, foi instalado o Museu da dita cuja, ali na Prudente de Moraes.
Votação encerrada, urnas recolhidas ao prédio da Prudente, ninguém entrava, só o juiz e o pessoal da Justiça, e as urnas numa sala “inviolável”.
Na calçada em frente a vigilância era de soldados do Exército, armados e embalados. Passagem só pelo meio da rua ou pela calçada do outro lado, onde cabos eleitorais, eleitores e curiosos faziam vigília. Mas havia espaço para emprenharem urnas.

No dia seguinte, abertas as urnas, não dava outra: urnas emprenhadas e o recheio acabava dando
a vitória ao candidato beneficiado pela invasão que ninguém viu.
Em tempo: o ato de tirar os votos e rechear a urna com os do candidato interessado era conhecido por “emprenhar a urna”.

(*) Cutubas – Partidários do coronel Aluízio Ferreira, normalmente seringalistas, grandes comerciantes e funcionários públicos.
(**) Peles-curtas – Partidários do médico Renato Clímaco de Medeiros, grupo que reunia quem não era cutuba ou alguns daquele grupo que preferiam não apoiar Aluízio.

LITERATURA DE RONDÔNIA

MULHER DE PEDRA
Emmanoel Gomes (Professor, poeta, historiador, membro da Academia Vilhenense de Letras)



COMO ÉS DURA, INATINGÍVEL.
SEU OLHAR SEVERO, SUPERIOR.
CORPO BALZAQUIANO IRRETOCÁVEL
UMA TIRANA, MAQUIAVÉLICA. A MAIS BELA FLOR.

DOCEMENTE MÁ.
FRIA EM TODA DECISÃO.
RÍSPIDA, TRAQUINA, VILÃ.
IMAGEM CRUEL DE DIVINA PERFEIÇÃO.

TEMO AO MESMO TEMPO EM QUE DESEJO.
ÉS UM POÇO DE BELEZA INQUIETANTE.
ENFEITIÇA OS POBRES QUE A DESEJAM
APRISIONADOS EM SEU CORPO ALUCINANTE.

Ó TERRÍVEL E AMALDIÇOADA PERFEIÇÃO.
CANTO DE SEREIA, ARMADILHAS TÃO CRUÉIS.
CONTORNOS RAROS EXUBERANTES TRAIÇOEIROS.
DEUSA DA FRAGRÂNCIA, DECANTADA EM CONTOS, POESIAS E CORDÉIS.

INTRANSIGENTE, IRRETOCÁVEL, ACIMA DAS LEIS.
INTIMIDAS A TODOS COM SUAS ESTONTEANTES CURVAS.
GUERREIROS DOBRARAM SEUS JOELHOS DIANTE DE TAMANHA ARROGÂNCIA, TRUCULÊNCIA E LUXURIA.
CAÍRAM OS FORTES, INTELIGENTES E AQUELES COM BRAVURAS.

AO ENFRENTA-LA ARREMESSEI UMA PERGUNTA NO REPENTE.
BELA MULHER CRUEL. CONHECE O TERNO, PURO AMOR DE VERDADE?
...DE REPENTE... FICOU FRACA, TRISTE, LINDA, DESFIGURADA.
ATÉ SORRIU, TRANSMITINDO ALGUMA HUMANIDADE.

RESPIROU FUNDO... QUE MULHER IMPRESSIONANTE!
NÃO FALOU NADA, TRANSFORMOU-SE EM SEU OPOSTO.
FOI EMBORA CAMINHANDO INSEGURA.
PERMITINDO QUE EU VISSE UMA LÁGRIMA ESCORRENDO NO SEU ROSTO.


COISAS QUE ACONTECEM COM A GENTE - 3

MUITO PRAZER. EU SOU O CAPITÃO SÍLVIO! (*)

Durante um bom tempo, ao término da década de 1960 até meados da década de 80, o Incra (**) foi o grande responsável pela condução da problemática fundiária de Rondônia.
Sob a liderança do capitão Sílvio Gonçalves de Faria uma equipe de técnicos trabalhou muito e traçou o destino agrícola desta nova fronteira agrícola do Brasil, quando milhares de brasileiros foram incentivados a virem para Rondônia, ajudando a gerar o Estado que surgiria em 1981. Com isso passaram a ocorrer invasões de terras, sendo que estas mais de 90% eram devolutas.

O capitão Sílvio, pelo grandioso trabalho que o INCRA desenvolvia, já era meio lendário no campo. Ele deslocava-se sempre entre as vilas e cidades que estavam no eixo da BR-364, num veículo pilotado pelo fiel motorista conhecido por "Pipira".
Diante de qualquer situação nova que ele verificava, era comum mandar parar o carro, desembarcava e se punha a conversar, fazia reuniões improvisadas com agricultores e por ali mesmo já decidia alguma coisa. Não ficava para depois.
Certa feita, trafegando entre Jaru e Ariquemes viu um homem de machado na mão (motosserra chegaria mais tarde) derrubando o mato.
"Pipira, para!".
Ele desceu.
O capitão tinha dois metros cúbicos. Era alto, forte, preto, barriga avantajada, tinha um olho no peixe e outro no gato, voz tonitroante e rouquenha e, quando falava, punha as mãos nos quadris.
"Oh rapaz, o que você está fazendo aí? Quem te autorizou a derrubar a mata? Você sabe de quem é esta terra?"
- É minha, respondeu o homem, e quem autorizou fazer a derrubada foi o Capitão Sílvio.
" Como é o seu nome?" Perguntou o Capitão.
Depois que ele disse se chamar Raimundo, o Capitão estendeu a mão para ele e disse: "Prazer Raimundo, eu sou o Capitão Sílvio".
Aí o Raimundo que não era besta, sem nem sequer ficar vermelho já saiu contando que ia derrubar uns dois alqueires; que ia plantar arroz e milho e que a família, mulher e três filhos estavam chegando e ele tinha que levantar um barraco.
Só então ele deu uma contornada na situação, perguntando ao Capitão se poderia ficar ali. Homem decidido e bem informado, Sílvio Gonçalves de Faria sabia que naquele local a terra era pública e por isso respondeu na lata.
"Pode ficar sim meu filho, que essa terra é da União e vai ganhar o documento quem trabalhar e fizer o lote produzir; e daqui prá frente você não vai estar mentindo quando disser que foi o Capitão Sílvio quem te autorizou a tomar essa posse".
Montando na viatura deu o comando de sempre: "Vamos embora Pipira".
Depois ele e o Pipira se divertiam contando a expressão de terror do Raimundo quando o Capitão se identificou para ele.

(*) Com a contribuição de três ex-membros da equipe do capitão Sílvio

(**) À época havia três entidades de mando no Território: O Incra, do Capitão Sílvio, o 5º BEC e o Governador. Cada um tinha seu espaço, porém, quando ocorria algum conflito gerencial sempre prevalecia o entendimento do Capitão, cuja parcela de contribuição para Rondônia ser o que é hoje foi enorme, decisiva mesmo, apesar de pouco se falar a respeito.

sexta-feira, 28 de março de 2014

RONDÔNIA - HISTÓRIA EM FOTOS E DOCUMENTOS

SANTO ANTONIO - OS TRILHOS DA BORRACHA

Uma "linha férrea" na cidade de Santo Antonio, entre a estação do trem da Madeira-Mamoré e o porto de embarque da produção, no Rio Madeira, no início do Século XX, no primeiro ciclo da produção gomífera (1879/1914). 
Em grande parcela a mão-de-obra para a extração da borracha no período foi favorecida pelas enormes secas no Nordeste. Em 1914, com a entrada no mercado da borracha produzida no Oriente, a borracha amazônica perdeu valor e só retornou com força por um pequeno período, entre 1942 e 1945 quando os japoneses tomaram a área de produção gomífera.
A cidade de Santo Antonio pertencia à época ao Estado de Mato Grosso e a partir de 1945 foi agregada a Porto Velho como bairro. 


DA SÉRIE COISAS QUE ACONTECEM COM A GENTE


NA CASA DA OUTRA

Responsável pelo contato inicial com prefeitos recém-eleitos, liguei para um deles, no número da própria residência, isso depois de muito pesquisar porque poucos sabiam dele.
Mas consegui. Na terceira tentativa atendeu uma senhora que se identificou como sendo a esposa. Disse quem eu era e o que pretendia e pedi para falar com o prefeito eleito, marido dela. 
- Aquele vagabundo não está aqui....
Expliquei da importância do convite que eu pretendia fazer até que a convenci.
Aí a senhora chamou um filho.
- Atende aí, tem uma cara querendo falar com o sem-vergonha do teu pai. Diz para ele o telefone da casa daquela p....
O garoto mandou: “O telefone da casa que o pai tá é .....”.
Liguei e a pessoa que atendeu disse que ele estava, gritou para o meu alvo que acabasse logo de tomar banho para atender ao telefone. E completou:
“Deve ter sido bem a cobra daquela tua mulher que deu o meu telefone”.
O prefeito eleito veio, ouviu o recado e ficou por isso mesmo, pelo menos comigo. Já lá em casa eu não sei.


LITERATURA RONDONIENSE - DIMAS FONSECA


O Perfume da Pétala

É melhor sentir
O duro travo
Da pétala perfumada
Do que o rude agravo
Como sentença imutável
D’amarga indiferença
Que a tudo martiriza
E deixa a alma suspensa
A contemplar o ser
Que espargiu
Por longo tempo
O perfuma da pétala
De odor tão puro
Que amenizou
O pavoroso escuro
Onde se ergueu
O invisível muro
Que separa esta vida
Da outra.


("Entre o Peso da Toca e o Canto da Lira", pág. 65, autor: Dimas Ribeiro da Fonseca, membro da Academia de Letras de Rondônia)

quinta-feira, 27 de março de 2014

RONDÔNIA - HISTÓRIA EM FOTOS E DOCUMENTOS

UM PLANEJOU O ESTADO - O OUTRO EXECUTOU

Jornalista Josias Macedo (1), coronel Jorge Teixeira (2), jornalista Edinho (3), Lúcio Albuquerque (4), Clóvis Rhor (5) administrador do aeroporto) e coronel Humberto Guedes (6). 
Fevereiro de 1979 - O coronel Humberto da Silva Guedes, governador que projetou o Estado recebe, no aeroporto do Belmont, o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, que o substituiu e executou o projeto. 
Foi a primeira vez em muitos anos que um governador no exercício recebia o seu substituto. 


COISAS QUE ACONTECEM COM A GENTE -2



TORCENDO PELO INIMIGO?
Lúcio Albuquerque
1958 – Decisão da Copa do Mundo no Estádio Råsunda, em Estocolmo, contra os donos da casa, a Suécia. Em Porto Velho, àquela altura, a luz era deficiente e a transmissão a partir do local do jogo oscilava muito e algumas vezes o som chegava truncado ou falhava, como se alguém estivesse subindo e descendo uma ladeira.
Djalma Santos, Zito, Belini, Nílton Santos, Orlando e Gilmar;
Garrincha, Didi, Pelé, Vaavá e Zagalo - massagista Mário Américo - Brasil, campeão de 1958   

A Suécia vinha de um empate e duas vitórias magras na primeira fase e daí em diante chegara à final. O Brasil vinha de um empate (0x0) com a Inglaterra, 2x0 contra a União Soviética e 3x0 contra a Áustria. Na semi-final a Suécia batera ninguém menos que a Alemanha, campeã de 1954 e o Brasil goleara a França por 5x2.
Um grupo reuniu-se no clube Bancrevea (onde agora é o colégio Classe A – centro) e apesar da partida ter sido pela manhã, a turma começou a bebemorar. Começa o jogo, a voz do locutor vai e volta e de repente,“GOL”. Lógico que o grupo começou a comemorar, até porque pipocaram alguns foguetes.
5 minutos depois chega um membro atrasado do grupo: “Vocês estão bêbados. Comemorando o gol da Suécia?”.
A turma não soube o que explicar. Mas não precisava porque em seguida o Brasil empatou e finalizou ganhando de 5x2.

Eu não estava lá, mas minha fonte estava, o escritor, jornalista e professor Esron Penha de Menezes, que ria muito todas as vezes que contava a “barrigada”.

terça-feira, 25 de março de 2014

COISAS QUE ACONTECEM COM A GENTE

FAIXA ETÁRIA, QUE É QUE É ISSO?

Edinho Marques era repórter da TV-Rondônia, aí no início da década de 1980 e vai fazer reportagem numa "colônia de férias" que acontecia no campo do Comando de Fronteira Acre-Rondônia - CFAR (*).
Manda o cinegrafista fazer tomadas diversas, ouve dois garotos participantes e vai finalizar com o professor.
Edinho: Professor, qual a faixa etária das crianças?
Professor: Uns 100, 150 garotos.... 

(*) - Atual 17ª Brigada de Infantaria de Selva

RONDÔNIA - HISTÓRIA EM FOTOS E DOCUMENTOS

1976. Fazia três ou quatro meses que nós estávamos em Porto Velho. Na época o Igarapé dos Tanques quando caía qualquer chuva alagava toda região por ele banhada.
A foto aí é da Avenida Kennedy (*) com as casas dos trabalhadores da construtora Andrade Gutierrez (construção da BR-319, Porto Velho/Manaus) todas invadidas.
As casas ficavam na Kennedy, entre as Avenidas Benjamin Constant e Quintino Bocaiúva.

(*) Na década de 1980 o vereador Lucivaldo Souza fez aprovar na Câmara uma Lei que mudou a denominação daquela via, passando a ser Avenida Governador Jorge Teixeira. 

Crônicas Guajaramirenses

Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido

Paulo Saldanha (*)

21/03/2014 - [11:50] - Opinião

“Você é uma centelha da Chama Eterna.Você pode ocultar a centelha, mas jamais poderá destruí-la". Paramahansa Yogananda.

O Artigo primeiro da Constituição Federal é tão forte, tão incisivo, que grita de maneira tonitruante: “Art 1º - O Brasil é uma República Federativa, constituída sob o regime representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios. E impõe de forma soberana no § 1º: - Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido”.

O cidadão brasileiro jamais será escravo! Até mesmo nós que vivemos em Guajará-Mirim e Vila Nova! não precisamos ser tutelados, não existem mais os Senhores Feudais, nem os capitães-do-mato. Se ainda existe uma elite, que se arvora a dona da verdade, muito mais incisivo será sempre o grito do cidadão; este sim, por conta da intensidade da expressão, é de onde emanará a força do poder, que em seu nome será sempre exercido.

Os legítimos detentores do poder, brancos, negros, amarelos e índios, nativos ou não, moradores destas plagas, venceram mais uma batalha: A RETIRADA DO ISOLAMENTO, fenômeno que uma mínima porção, reduzidíssima parcela, desejava impor, como arautos de uma mentira, que, como todas, tinha 
uma perna muita curta; ora, alguém, bem versado em sociologia, define o isolamento como "a falta de contato interação sustentada com indivíduos ou instituições que representam a sociedade predominante"...

Por que, então, a insensibilidade haver desejado punir, de forma precipitada e sem base na antropologia, sociologia e na geopolítica, um contingente de brasileiros, já agredidos, vilipendiados, isolados mesmo, por conta das inundações com que a natureza “nos brindou” tão amargamente?

Deixar-nos relegados ao abandono é decretar a nossa incapacidade para exercitar a brasilidade que exige determinação, como atributo do nosso determinismo; o contrário será como provocar o nascimento de traumas, 

inclusive psicológicos, decorrentes do abandono, da negligência, da omissão, irmãos siameses da imperícia.

Que os julgadores de plantão, data vênia, tenham aprendido mais essa lição: afinal, nem todo brasileiro é vilão, marginal, agressor do meio-ambiente; nem todo branco deseja o mal dos nossos irmãos índios, por sinal, há mais de 100 anos, aqui, mais do que contatados, são brasileiros que desejam crescer e prosperar, porque já são cidadãos que desejam colher as benesses que lhes cabem, como fatia, por conta de toda a riqueza nacional. Mas, para tanto, precisamos estar ligados ao mundo, através dos meios rodoviários disponíveis, que nos possam ensejar, por outro lado, ter outra via de ligação com o Brasil e comida, energia, gás, combustíveis, enfim, os remédios salvadores e/ou mitigadores das nossas dores e sofrimentos.

Quem prefere o isolamento são os Eremitas, seja por promessas, purgação de culpas, opção religiosa, misantropia (não acalentamos ódio, nem aversão contra os nossos iguais, mormente à natureza humana ou qualquer outra opção, de cunho absolutamente personalíssimo contra as criaturas concebidas a imagem e semelhança de Deus). Até porque o cidadão do mundo precisa relacionar-se, ou por necessidades físicas, biológicas e sociais. Aristóteles já nos ensinava “que o homem é um animal social”...

 Santo Antão do Deserto, egípcio, herdeiro de bens, impulsionado pelas lições do Evangelho, vendeu seus tesouros, distribuiu sua herança entre os pobres e procurou viver num retiro, no deserto. Para ele, a penitência e as preces eram ações a serem cumpridas. Ele, sim, optou pelo isolamento; nós, não! Desejamos consagrar a nossa vida à participação na vida nacional.

Somos todos filhos de Deus, fonte criadora da vida, legatários da mãe natureza e do Ente Supremo; somos carentes de ligação com outros cidadãos que vivem noutros pontos cardeais, e, assim como nós, desejam prosperar, nas vertentes material e espiritual, por isso devemos viver à altura dessa herança divina.

Somos brasileiros!

E o isolamento a que tinham nos submetido, em face da insensibilidade, que normalmente mascara o embrutecimento profissional, poderia nos submeter ao vexame da desnutrição (afinal mercadorias, gêneros de primeira necessidade, gás e remédios já faltavam), e conduzia a ação devastadora, inclemente, deturpada, que poderia afetar a nossa alma, a nossa estima e a nossa cidadania.

O abandono não gera medo... produz pavor! Ainda bem que existem outras esferas, outras Instâncias no judiciário... Agradecer ao Tribunal Regional Federal/TRF em Brasília será imperioso!

Quem poderá afirmar que essa inundação não se repetirá no próximo ano?... Não desejamos, como habitantes destas paragens, nos transformar em depressivos ou improdutivos, enfim, párias da nação.

 Agora, precisamos fazer uso da nossa inteligência e agudeza 
de sentidos para cuidar dessa estrada, enfim, autorizada, ainda que emergencialmente, zelando para que apenas ali a virtude seja o elo, uma nova ligação possa ser construída, nas vertentes da bem-aventurança do tráfego, do cuidado com o bioma e com o uso racional que o trajeto precisa propiciar.

 Depois, bem, depois, caberão ações concretas para viabilizar um grande projeto de valorização sócio-econômico e ambiental, para dar vida autossustentada às gerações de hoje e de amanhã, que vivem (ou sobrevivem) nos eixos dos rios Guaporé, Mamoré, Madeira e Abunã, que foram punidos pela 
devastação das florestas em outras regiões do Estado, após o que imolaram os nossos territórios, transformando-os em Reservas para que outros municípios pudessem vicejar... Mas, esperemos e confiemos!

 “Se Deus é por nós, quem será contra nós”!

(*) Paulo Saldanha, membro da Academia de Letras de Rondônia onde ocupa a cadeira de número 35, e membro da Academia Guajaramirense de Letras, da qual é o presidente.

E A FRONTEIRA, DONA ROUSSEF?

Creio que a senhora sabe mais até que eu: a situação nas grandes, pequenas e médias cidades brasileiras já extrapolou todos os limites do que seria pensável de aguentar e hoje o medo, de quem será a “próxima vítima” é companheiro diário de quase 100% de brasileiros.
Lógico, não incluo aí os que contam com aparatos de segurança em seu redor, segurança paga com o dinheiro que nos tomam e que, conforme a Constituição Federal, deveria servir também para nos garantir a segurança, mas aí é outra história, porque os que compõem o grupo que impede os 100% são seres privilegiados e, por isso, nem ligam para a plebe ignara.
Mas, dona Roussef, uma coisa que sempre me incomoda é ver, por exemplo, notícias e notícias citando que um fomentador dos nossos males seja a facilidade com que se entra e sai pelas nossas continentais fronteiras, seja através da  Ponte da Amizade ou aqui ela Amazônia.
Bom, se já existe a consciência de que a inexistência de sistemas de controle mais fortes de passagem pelas nossas fronteiras, e isso alimenta o crime – valho-me aqui do que ouço e leio de entendidos no assunto; de que droga e armas chegam nas cidades por tal caminho, fico perguntando “por que razão o governo não faz alguma coisa?”. “Por que não implanta sistemas rigorosos de controle?”.
Sou franco: não conheço bem as fronteiras brasileiras na região sul, mas as conheço na nossa Amazônia. Aqui, pelo visto, os contingentes são ínfimos e a própria presença do Exército – veja o exemplo de Rondônia, limita-se a dois contingentes, um em Guajará-Mirim e outro em Forte Príncipe.
Será que a senhora sabe a distância entre esses dois pontos? Já viajei de barco naquele espaço e nem é preciso estudar muito para saber que falta ali a presença do Estado, quer dizer, da estrutura gerida pela senhora, o que não inclui apenas os militares, esses tolhidos em sua capacidade até (volto aqui a citar o que ouço e leio de autoridades do setor) porque as verbas são mais que curtas.
Ah! Mas verba para financiar obras em Cuba, perdoar dívidas de países africanos ou da Venezuela, para isso o Governo tem. E nem falo da construção de vários “elefantes brancos” a que jornalistas esportivos cognominam “arenas”, isso o governo tem de sobra, ainda mais com uma legislação que permite afrouxamento do controle de contas.
(Sobre os jornalistas esportivos lembro que na década de 1950 o Juca Chaves lançou a música “Caixinha, Obrigado!” e num dos versos ele afirma que “o futebol é o ganha-pão da imprensa”, daí a defesa que fazem da Copa num país como o nosso.
Dona Roussef, a senhora socorre o Rio de Janeiro mandando tropas federais fazer o trabalho que não é sua atividade fim. É um aliado político, que, como outros governadores anteriores, falhou nesse lado e a senhora talvez inconscientemente tenha entrado naquela via de que “aos amigos, os favores da lei”. Além disso, os morros cariocas têm enorme contingente eleitoral e uma ação dessa forma se transforma em ponto midiático que, creio que a senhora saiba, só isso não resolve.
Mas a moda é “dar o peixe ao invés de ensinar a pescar”, como fazem com famílias que vivem da bolsas, dinheiro tirado da extração que fazem de nossos salários, ação que, a senhora, economista, sabe que tais bolsas não levam a lugar nenhum – é só fazer uma projeção para 20 anos. É, mas a eleição é daqui a seis meses e aqui se aplica a lógica de que “mais vale um pássaro na mão do que dois avoando”.
Daí, dona presidente, que tal olhar para as fronteiras? Aqui, por incrível que pareça, também é Brasil, talvez até com um sentimento maior de brasilidade do que em outras regiões do país. Sugiro à senhora ler o “Discurso do Rio Amazonas” que outro presidente, há 73 anos fez em Manaus. Talvez ali a senhora encontre forças para nos olhar com a mesma atenção com que socorre o seu aliado agora.
Inté outro dia, se Deus quiser!


segunda-feira, 24 de março de 2014

RONDÔNIA - HISTÓRIA EM FOTOS E DOCUMENTOS 3


Ata da eleição para Presidente da República em 1919, em Santo Antonio
(Conforme a ortografia da época) 

Transcrição da acta de eleição para Presidente da Republica. Acta de instalação da mesa eleitoral da secção unica do municipio de Santo Antonio do Rio Madeira do Estado de Mato Grosso - Aos trese dias do mez de Abril do anno de mil novecentos e desenove, neste edificio da Intendencia Municipal desta Villa de Santo Antonio do Rio Madeira às nove horas da manhã, reunidos os membros da referida mesa, composta do Presidente Doutor José Julio de Freitas Coutinho, juiz de Direito, do mesario Major Antonio Marcelino Cavalcante, servindo de secretario, Eu Jose Cassimiro Bayma Tabellião e escrivão do primeiro officio desta Villa, para servir nesta eleição para Presidente da Republica foi então pelo dito presidente declarado instalada nesta mesa eleitoral mandando que se lavrasse esta acta e se oficiasse ao juiz Federal na forma da lei, o que tudo foi feito lavrando-se esta acta que, vai assinada pelos referidos Presidente e mesario e por mim secretario. (assinado). José Julio de Freitas Coutinho, Presidente, Antonio Marcelino Cavalcante, do que dou fé. Santo Antonio do Rio Madeira em trese de abril de mil novecentos e desenove. Em testemunhos (estava o signal publico) da verdade o tabelião (assinado) Jose Cassimiro Bayma. Acta da eleição para presidente da república - Aos treze dias do mez de Abril de mil novecentos e desenove, nesta Villa de Santo Antonio do Rio Madeira, no edificio da Intendencia Municipal as nove horas da manhã depois de instalada a mesa eleitoral da secção unica da mesma Villa declarou o presidente que ia proceder a eleição para Presidente da Republica e não tendo sido apresentado nem um officio para o fiscal, mostrou dito presidente a urna vazia e mandou que eu secretario principiasse a lavrar esta acta, acta depois do que dito presidente determinou ao mesario Antonio Marcellino Cavalcante que fizesse a chamada dos eleitores pela respectivas lista, tendo respondido dos eleitores que vão em seguida assinadas: Antonio José de paiva Pessoa, Antonio Pereira Brandão, Antonio Marcellino Cavalcante, Angelo Nunes de Lima, Boaventura de Souza Rolim, Clementerio Gonçalves dos Santos, Celestino Julio de Oliveira, Domingos Rosas, Francisco Gonçalves da Silva, francisco Gonçalves da Silva, Francisco Jacintho Romas, Honoriano Amazonas Lobato, Henrique João de Oliveira, José Julio de Freitas Coutinho, José Cassimiro Bayma, José Nogueiira da Costa, José Fortunato da Conceição, João Antonio de Lima, José Soleceudo dos Santos, José Maximo Coelho, João Felix de Campos, Joaquim Ferreira de Mattos, João Miranda, Joaquim Barbosa Murubica, João Espardary, Jaime Buraglo, João cavalcante de Sá Gouveia, Julio Acero Mariuba, José Antonio Abrão, Luiz Caetano de Souza, Manoel Marcellino Cavalcante, Manoel Damario Pereira, Manoel Amaro Lopes Pereira Militão, pedro Gonçalves, manoel Othose Campelo, manoel Soriano dos Santos, Octavio maxignier Colin, pedro Rodrigues Pimenta, Salustiano Alves Correa, Sancho da Cruz e Silva, Simplicio José da Silva, Salomão Malachias José de Moraes, Gil Paiva Henrique Alves de San’tarine, José Manoel do Carmo, Hugo de Mello, Trajano Altício Almeida, João Lino dos Santos, João Modesto Evangelista, Oscar Fernandes Cesario de Azevedo, José Ribeiro dantas, deffim Paes de Figueiredo, Egicio do Nascimento Miranda, Antonio Flor, Francelino Ferreira de Mendonça, Nominando Eleuterio - Concluida a notação que foi feita com as formalidades legaes, verificam-se terem notados cinquenta e oito eleitores e que deixaram de comaprecer setenta e oito, tendo sido admitido o voto mediante a exibição de titulos, o eleitor Tranjono Altério de Almeida, cujo nome por omissão não constava na Lista de chamada. Aberta a urna em presença do eleitorado foram apurados todas as cedulas existentes na urna em numero de cincoenta e oito, tendo obtido o candidato Doutor Epitácio da Silva Pessoa, cincoenta e oito votos. E para constatar mandou o presidente se encerrasse esta acta que vai assignada pela mesa com as firmas reconhecidas e por mim secretario, e que se publicasse e se afixasse a porta deste edificio edital dando resultado da eleição digo, resultado tambem em boletins assignados pela mesa ao agente do correio e o encarregado da estação do Telegrafho nacional, e que se remetesse este livro como officio, ambas sobre registros postal ao Presidente da junta apuradora em Cuiabá; e se transcrevesse esta acta no protocolo das audiencias , transcripção que seria assinada pela mesa com as firmas reconhecidas. Eu José Cassimiro Bayma Secretário que o escrevi assino. José Julio de Freitas Coutinho Presidente, Antonio Marcellino Cavalcante, mesario José Casimiro Bayma, secretário. Reconheço próprias as assignaturas de José Julio de Freitas Coutinho e Antonio Marcellino Cavalcante, do que dou fé. Santo Antonio do Rio Madeira, trese de Abril de mil novecentos e desenove. Em testemunho (estava o signal publico) da verdade. O tabelião (assignado) Jose Casimiro Bayma. José Júlio de Freitas Coutinho, Antonio Marcellino Cavalcante. (Assinaturas)

domingo, 23 de março de 2014

RONDÔNIA EM FOTOS E DOCUMENTOS - 2

Duas imagens do mesmo local demonstram sem dúvida a diferença entre uma cidade que se iniciava e a que hoje existe. Ambas são da Avenida 25 de Agosto (aqui só uma faixa), em Rolim de Moura. Na primeira, em preto-e-branco, Rolim era apenas um distrito de Cacoal. Na segunda, feita 30 anos depois, mostra a evolução e o acerto daqueles que, mesmo contra a vontade de muitos, acreditaram na proposta de criar uma nova gente, num novo Estado.
Em Rolim ainda é possível encontrar quem conte uma história interessante sobre a 25 de Agosto. O governador Jorge Teixeira, em campanha em 1982 e instigado por comerciantes, discursou criticando quem teria cometido o "erro" de abrir uma avenida cortando uma cidade com duas pistas imensas e uma faixa central enorme. Ao lado o agrônomo do Incra José Lopes respondeu na hora: "Quem mandou abrir foi eu porque penso esta cidade dentro de mais 30 anos e não agora". Teixeira teria desconversado e mudado de assunto. 30 anos depois Zé Lopes tinha razão. Confira a 25 de Agosto numa visão com as duas pistas e a faixa central, tudo urbanizado.
(Fotos cedidas pela Prefeitura de Rolim de Moura)


MEMÓRIAS - CADA UM NO SEU QUADRADO

Antes de continuar é preciso deixar alguns pontos bem claros:
1) conheci o governador Jorge Teixeira quando ele chegou a Manaus, aí por volta de 1967 ou 68.
2) nunca trabalhei com ele, tanto na prefeitura de Manaus quanto quando ele foi governador de Rondônia.
3) não vim de Manaus com ele em 1979, cheguei a Rondônia em 1975;
4) tive sempre pelo Teixeira o mesmo respeito que dediquei durante mais de 40 anos de reportagem com todas as minhas fontes de notícia.
5) sempre deixei claro que o considerava bem, mas não privava de sua amizade, de ir a sua casa, etc.
6) talvez por isso há quem pense que tenho raiva dele, porque não sou de louvá-lo. 
Vamos à história:
1980 - O governador Jorge Teixeira reuniu os secretários e levou pela BR-364 no que chamavam de "Governo Itinerante". Eu e outros colegas da Imprensa fizemos a mesma viagem, até porque era período de batalha pela criação do Estado e normalmente nós cobríamos esses encontros.
Em Pimenta Bueno Teixeira reúne os secretários com lideranças locais inclusive o prefeito Vicente Homem Sobrinho. Estou encostado lá no fundo, anotando.
De repente, sei lá por qual razão, o Teixeira vira-se e diz
- Olhaí, Lúcio, escreve direito o que eu estou dizendo.
No hora, para espanto de muitos, respondi:
- Governador, eu nunca fui ensiná-lo a governar, então não venha me ensinar o meu ofício.
Ele riu muito, depois conversamos e pensei que a coisa estivesse parada aí. Dias depois chegou-me às mãos a carta endereçada por uma assessor de Teixeira ao jornal O Estado de São Paulo, pedindo que me demitissem por ter tratado mal o governador. Cópia dessa carta chegou a mim através de uma fonte do gabinete da assessora.
Viajei a Brasília e na volta, no aeroporto, um secretário do governador. "Lúcio, o coronel está uma fera contigo". Respondi: "Amigo, eu vou ficar preocupado no dia em que a dona Fátima estiver uma fera comigo. Quanto a ele, mantenho meu respeito mas não me abalo".

RONDÔNIA - HISTÓRIA EM FOTOS E DOCUMENTOS - 1

1976 - Eleição para decidir a construção de uma nova cidade (onde é Ariquemes agora).

Jornalista Ciro Pinheiro (de costas), governador Humberto Guedes, prefeito de Porto Velho Antonio Carlos Cabral Carpintero - de óculos) e Olavo Nobre (camisa listrada). (F. Alto Madeira/Ciro Pinheiro)

Janeiro ou fevereiro de 1976 - O governador Humberto Guedes realiza uma eleição para definir se os moradores da antiga Vila Papagaio (hoje bairro Marechal Rondon) queriam a construção de uma nova cidade.
Humberto Guedes, o governador que pensou Rondônia grande e que é colocado de lado na história local, leu voto a voto.
A eleição foi numa escolinha na margem da BR-364 entre a cidade velha e a Nova Ariquemes: foram 100% de votos a favor.
Dias depois o mecânico Eduardo Lima e Silva, o "seu" Dudu liderava a equipe de trabalhadores que iniciaram a implantação da nova cidade, totalmente desenhada na prancheta do arquiteto  Cabral Carpintero - na época o perfeito de Porto Velho o era também até Vilhena. 
(Eu estava lá)


eu

mmmmm

sábado, 22 de março de 2014

CONTA GOTAS - 22.3.14

Lúcio Albuquerque


REFLITA
“O que me assusta não são as ações e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o silêncio das pessoas boas.” Martin Luther King

PERGUNTAR NÃO OFENDE
Que tal começar medidas preventivas antes do Madeira baixar?

DESERTOU, ASSALTOU E MATOU. E DAÍ?
O leitor Pedro Correia, de Guajará-Mirim, pergunta se o elemento envolvido na história a seguir vai ser também levado à Comissão da Verdade. “Ele desertou do Exército, atirou num guarda, assaltou bancos e matou um taxista. Identificado como capitão Darcy Rodrigues, na reportagem à Folha de São Paulo como membro de um grupo armado, ele aparenta estar feliz pelos crimes que cometeu”. (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/03/1429216-minha-historia-capitao-que-deixou-exercito-para-entrar-na-luta-armada-lembra-de-atritos-com-dilma.shtml).
Bom, Pedro, eu duvido. Vai ver que já deve ter conseguido indenização e outras benesses comuns àqueles que fizeram o mesmo e até pior. Essa Comissão da Verdade, na realidade como já escrevi sobre o assunto, de “verdade” só tem o título. Antes que eu esqueça, obrigado pela leitura da coluna.

BLU E JADE
Tendo a Amazônia como pano de fundo, a dupla Blu e Jade, agora com três filhotes, desembarca na região no filme “Rio 2”, a partir do próximo final de semana nos cinemas. Vamos torcer que em uma das salas do Shoping haja a exibição e que a qualidade seja a mesma do filme antecessor.

CANDIDATE-SE
A mansão da modelo brasileira Gisele Bunchen, em Los Angeles está à venda. Alguém se candidata? Só 50 milhões – de dólares.

POR QUÊ?
De Belém, Raimundo Silva Cunha, manda perguntar: “Que tal as universidades e institutos históricos abrirem um debate sobre 1964 e os efeitos no desenvolvimento do país?”. Bom, Raimundo, sua pergunta deve ser direcionada a esses órgãos, que não podem continuar tendo apenas a visão da “história oficial do momento”. Eu não acredito numa discussão isenta. É só ver: algumas das maiores obras do país foram realizadas no período que você cita: Itaipu, a ponte Rio Niterói, dentre outras. Para Rondônia sobrou o asfaltamento da BR-364 e a própria criação do Estado.

TEATRO
Sensacional a abertura do Palco Giratório. E neste sábado e domingo, teatro na rua, no SESC Esplanada e no Banzeiros. Não seja por falta de programação que você vai deixar de ir.

DATAS DE RONDÔNIA
Dia 25 – Em 1977 – Funciona a primeira agência bancária em Cacoal – Bradesco (Loudes Kemp, Cacoal, sua História e sua gente).
Dia 25 – Em 1983 – A Assembléia Estadual Constituinte aprova o Regimento Interno regulador da elaboração da primeira Constituição do Estado de Rondônia (Lúcio Albuquerque, 20 Anos da Assembleia Legislativa).

SEU FAX

Início de legislatura na Assembléia Legislativa sempre acontece fato inusitado. Em muitos casos pessoas trazidas pelos novos deputados, especialmente os que vêm dos municípios fora da capital, talvez por não conhecerem os meandros ou outros motivos, acabam gerando, às vezes atritos, e situações cômicas.
Como aconteceu uma vez, numa das legislaturas da década de 1990, quando a arrogância do neo-assessor parlamentar acabou fazendo com que ele ficasse de castigo. Como se diz comumente, “para entrar bem tem de saber entrar”.
E foi o que aconteceu com o assessor, um cidadão com aí em torno de 40 anos, que adentrou à Assessoria de Imprensa com uma folha de papel numa das mãos e, sem nem cumprimentar ninguém ou pedir ajuda mandou ver:
“O deputado mandou isso aqui para o “seu” Fax”. Na sala estava um time de “cobras criadas”, todos profissionais de imprensa com muitos anos de janela e, também, há várias legislaturas tratando com deputados e seus assessores.
Alguém perguntou o que realmente o camarada queria e ele insistiu que o deputado mandara que ele trouxesse para o “seu” Fax. Bom, aí virou galhofa. Um de nós disse que o “seu” Fax saíra, mas que se ele quisesse poderia deixar que encaminharíamos o documento, mas o camarada insistiu e até de forma mais dura.
- Vou dizer ao deputado o que vocês disseram que o “seu” fax saiu e não voltou, anunciou o aspone (*)
“Olha, companheiro, então senta aí e espera um pouco porque “seu” Fax saiu, mas volta logo”. O autor da sugestão, como sabia que nós já estávamos rindo, saiu de fininho e assim fizemos, para rir no “escritório”, que era como chamávamos o corredor  em frente à sala da Assessoria.
Quase uma hora depois conseguimos que alguém entrasse e explicasse que “seu” Fax era apenas um equipamento eletrônico de transmissão de textos. O assessor saiu da sala vociferando que “isso não vai ficar assim” e que “meu deputado vai tomar providências”.
Como eu conhecia o deputado e sabia que ele iria era rir, dias depois contei o ocorrido e, como eu previra, tudo acabou em risadas.

(*) Para quem não sabe: aspone significa “Assessor de porra nenhuma”.


sexta-feira, 21 de março de 2014

VELHOS TEMPOS DA BR QUE DEVORAVA HOMENS E MÁQUINAS

Quem trafega atualmente pela rodovia BR-364, ainda com muitos buracos, nem imagina como era antes, nem faz muito tempo porque a estrada foi asfaltada em 1984, está fazendo 30 anos. Você saía, mas não sabia quando chegava, como chegava e, pior, se chegava. Não havia carro hidramático e nem com cabines com ar-condicionado.
Em 1977 o jornal em que eu trabalhava mandou que eu fosse, de carona num caminhão-tanque fazer uma viagem de Porto Velho a Cuiabá - agora há quem faça em 24 horas, ou menos, ou se faz em um pouco mais. Fui com o tanqueiro "Gaúcho", excelente contador de estórias e histórias. Levamos mais de duas semanas no trecho, alternando imensos atoleiros e regiões onde quem atolava era mesmo a poeira.
O ano correto foi 1977. Próximo a Vilhena.
E foi perto de Vilhena, numa das muitas subidas de serra da região que sucedeu: o tanqueiro, sabe-se lá qual o motivo, perdeu a direção, capotou. Nós estávamos parados a menos de 100 metros, com o "Gaúcho" trocando um pneu e fotografei. Quase que o outro caminhão bate. O motorista que capotou morreu na hora.

A HISTÓRIA DE GUAJARÁ NAS LEMBRANÇAS E NA PAREDE DO BOTECO DO CLÓVIS





MONTEZUMA CRUZ
De Guajará-Mirim


A galeria com mais de 150 fotos em preto e branco e coloridas permite ao visitante rever Guajará-Mirim de antigamente na Bodega do Clóvis. Ali estão fachadas de prédios públicos e particulares; desfiles escolares; reuniões de autoridades e moradores ilustres; disputas futebolísticas; e a própria inauguração desse bar, na Rua Leopoldo de Matos.

O botafoguense Clóvis Alberto Nunes Everton, 65 anos, pai de uma filha e avô de três netos, campeão pelo América Futebol Clube em 1971, parou de jogar em 1974. Jogou também nos times do Pérola e do Marechal. O diploma outorgado pela Liga de Desportos local está caprichosamente emoldurado.

De um ano para cá, o bar originalmente inaugurado em 20 de janeiro de 1948 pelo sogro dele, Pedro Alves Rodrigues, é ponto de encontro de saudosistas e serve de referência para quem se interessa por lembranças das praças, da igreja, do 6º Batalhão de Infantaria de Selva, dos hospitais, dos colégios, dos clubes sociais, do trem da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

“Olhe aqui o padre Bendoraitis, o senhor o conheceu?” – indaga. Em seguida, explica que o sacerdote médico lituano, ex-diretor do Hospital Bom Pastor, patrocinou uma equipe de futebol de salão.

O pomposo jantar no Clube Helênico e as reuniões em mesas de bar colocavam frente a frente expoentes da sociedade local. No gramado do Estádio João Saldanha, o campeão mundial Garrincha aparece nas fotos do jogo entre o Marechal e o Pérola. O ponteiro direito do Botafogo e da Seleção Brasileira jogou meio tempo em cada equipe.

Clóvis lembra-se com facilidade dos craques que a cidade revelou e brinca: “O Bino virou Faz tudo” e foi jogar no Moto Clube em Porto Velho; depois, não fez mais nada”. “O ponteiro Silvinho Júnior brilhou no Penapolense, foi emprestado ao São Paulo Futebol Clube e depois jogou na Ponte Preta”.

O centro de Guajará-Mirim tem prédios antigos abandonados, entre os quais, um cinema e um hotel. A situação não desanima o comerciante Clóvis, que prefere olhar para a frente: “Nesta rua (Leopoldo de Matos), o empresário Carlos Leal constrói um novo estabelecimento ao lado da Loja City Lar, demonstrando acreditar em dias melhores”. No momento em que as águas do Rio Mamoré invadem o Bairro do Triângulo, essa notícia é alentadora.

Um pitaco: a galeria poderá expor também fotos do maravilhoso verde ainda visto neste município fronteiriço à Bolívia. Em maio de 2009, Guajará-Mirim recebeu no Rio de Janeiro o título de "Cidade Verde", outorgado pelo Instituto Ambiental Biosfera, em razão de seu mosaico de áreas preservadas. Portanto, castanheiras aguardam vez.


Diferente das cidades da rodovia BR-364, esta cidade é reconhecida por sua hospitalidade, também manifestada às pessoas quando elas se deparam com imagens antigas expostas por seu Clóvis nas paredes do seu badalado bar.