segunda-feira, 31 de março de 2014

COISAS QUE ACONTECEM COM A GENTE - 3

MUITO PRAZER. EU SOU O CAPITÃO SÍLVIO! (*)

Durante um bom tempo, ao término da década de 1960 até meados da década de 80, o Incra (**) foi o grande responsável pela condução da problemática fundiária de Rondônia.
Sob a liderança do capitão Sílvio Gonçalves de Faria uma equipe de técnicos trabalhou muito e traçou o destino agrícola desta nova fronteira agrícola do Brasil, quando milhares de brasileiros foram incentivados a virem para Rondônia, ajudando a gerar o Estado que surgiria em 1981. Com isso passaram a ocorrer invasões de terras, sendo que estas mais de 90% eram devolutas.

O capitão Sílvio, pelo grandioso trabalho que o INCRA desenvolvia, já era meio lendário no campo. Ele deslocava-se sempre entre as vilas e cidades que estavam no eixo da BR-364, num veículo pilotado pelo fiel motorista conhecido por "Pipira".
Diante de qualquer situação nova que ele verificava, era comum mandar parar o carro, desembarcava e se punha a conversar, fazia reuniões improvisadas com agricultores e por ali mesmo já decidia alguma coisa. Não ficava para depois.
Certa feita, trafegando entre Jaru e Ariquemes viu um homem de machado na mão (motosserra chegaria mais tarde) derrubando o mato.
"Pipira, para!".
Ele desceu.
O capitão tinha dois metros cúbicos. Era alto, forte, preto, barriga avantajada, tinha um olho no peixe e outro no gato, voz tonitroante e rouquenha e, quando falava, punha as mãos nos quadris.
"Oh rapaz, o que você está fazendo aí? Quem te autorizou a derrubar a mata? Você sabe de quem é esta terra?"
- É minha, respondeu o homem, e quem autorizou fazer a derrubada foi o Capitão Sílvio.
" Como é o seu nome?" Perguntou o Capitão.
Depois que ele disse se chamar Raimundo, o Capitão estendeu a mão para ele e disse: "Prazer Raimundo, eu sou o Capitão Sílvio".
Aí o Raimundo que não era besta, sem nem sequer ficar vermelho já saiu contando que ia derrubar uns dois alqueires; que ia plantar arroz e milho e que a família, mulher e três filhos estavam chegando e ele tinha que levantar um barraco.
Só então ele deu uma contornada na situação, perguntando ao Capitão se poderia ficar ali. Homem decidido e bem informado, Sílvio Gonçalves de Faria sabia que naquele local a terra era pública e por isso respondeu na lata.
"Pode ficar sim meu filho, que essa terra é da União e vai ganhar o documento quem trabalhar e fizer o lote produzir; e daqui prá frente você não vai estar mentindo quando disser que foi o Capitão Sílvio quem te autorizou a tomar essa posse".
Montando na viatura deu o comando de sempre: "Vamos embora Pipira".
Depois ele e o Pipira se divertiam contando a expressão de terror do Raimundo quando o Capitão se identificou para ele.

(*) Com a contribuição de três ex-membros da equipe do capitão Sílvio

(**) À época havia três entidades de mando no Território: O Incra, do Capitão Sílvio, o 5º BEC e o Governador. Cada um tinha seu espaço, porém, quando ocorria algum conflito gerencial sempre prevalecia o entendimento do Capitão, cuja parcela de contribuição para Rondônia ser o que é hoje foi enorme, decisiva mesmo, apesar de pouco se falar a respeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário