MUITO
PRAZER. EU SOU O CAPITÃO SÍLVIO! (*)
Durante um bom tempo, ao término da década de 1960 até meados da década
de 80, o Incra (**) foi o grande responsável pela condução da problemática
fundiária de Rondônia.
Sob a liderança do capitão Sílvio Gonçalves de Faria uma
equipe de técnicos trabalhou muito e traçou o destino agrícola desta nova
fronteira agrícola do Brasil, quando milhares de brasileiros foram incentivados
a virem para Rondônia, ajudando a gerar o Estado que surgiria em 1981. Com isso
passaram a ocorrer invasões de terras, sendo que estas mais de 90% eram
devolutas.
O capitão Sílvio, pelo grandioso trabalho que o INCRA desenvolvia, já
era meio lendário no campo. Ele deslocava-se sempre entre as vilas e cidades
que estavam no eixo da BR-364, num veículo pilotado pelo fiel motorista
conhecido por "Pipira".
Diante de qualquer situação nova que ele verificava, era comum mandar
parar o carro, desembarcava e se punha a conversar, fazia reuniões improvisadas
com agricultores e por ali mesmo já decidia alguma coisa. Não ficava para
depois.
Certa feita, trafegando entre Jaru e Ariquemes viu um homem de machado
na mão (motosserra chegaria mais tarde) derrubando o mato.
"Pipira, para!".
Ele desceu.
O capitão tinha dois metros cúbicos. Era alto, forte, preto, barriga
avantajada, tinha um olho no peixe e outro no gato, voz tonitroante e rouquenha
e, quando falava, punha as mãos nos quadris.
"Oh rapaz, o que você está fazendo aí? Quem te autorizou a derrubar
a mata? Você sabe de quem é esta terra?"
- É minha, respondeu o homem, e quem autorizou fazer a derrubada foi o
Capitão Sílvio.
" Como é o seu nome?" Perguntou o Capitão.
Depois que ele disse se chamar Raimundo, o Capitão estendeu a mão para
ele e disse: "Prazer Raimundo, eu sou o Capitão Sílvio".
Aí o Raimundo que não era besta, sem nem sequer ficar vermelho já saiu
contando que ia derrubar uns dois alqueires; que ia plantar arroz e milho e que
a família, mulher e três filhos estavam chegando e ele tinha que levantar um
barraco.
Só então ele deu uma contornada na situação, perguntando ao Capitão se
poderia ficar ali. Homem decidido e bem informado, Sílvio Gonçalves de Faria
sabia que naquele local a terra era pública e por isso respondeu na lata.
"Pode ficar sim meu filho, que essa terra é da União e vai ganhar o
documento quem trabalhar e fizer o lote produzir; e daqui prá frente você não
vai estar mentindo quando disser que foi o Capitão Sílvio quem te autorizou a
tomar essa posse".
Montando na viatura deu o comando de sempre: "Vamos embora
Pipira".
Depois ele e o Pipira se divertiam contando a expressão de terror do
Raimundo quando o Capitão se identificou para ele.
(*) Com
a contribuição de três ex-membros da equipe do capitão Sílvio
(**) À época havia três entidades de mando no Território: O Incra, do
Capitão Sílvio, o 5º BEC e o Governador. Cada um tinha seu espaço, porém,
quando ocorria algum conflito gerencial sempre prevalecia o entendimento do
Capitão, cuja parcela de contribuição para Rondônia ser o que é hoje foi
enorme, decisiva mesmo, apesar de pouco se falar a respeito.
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