Creio que a senhora sabe mais até que eu: a situação nas
grandes, pequenas e médias cidades brasileiras já extrapolou todos os limites
do que seria pensável de aguentar e hoje o medo, de quem será a “próxima vítima”
é companheiro diário de quase 100% de brasileiros.
Lógico, não incluo aí os que contam com aparatos de
segurança em seu redor, segurança paga com o dinheiro que nos tomam e que,
conforme a Constituição Federal, deveria servir também para nos garantir a
segurança, mas aí é outra história, porque os que compõem o grupo que impede os
100% são seres privilegiados e, por isso, nem ligam para a plebe ignara.
Mas, dona Roussef, uma coisa que sempre me incomoda é ver,
por exemplo, notícias e notícias citando que um fomentador dos nossos males
seja a facilidade com que se entra e sai pelas nossas continentais fronteiras,
seja através da Ponte da Amizade ou aqui
ela Amazônia.
Bom, se já existe a consciência de que a inexistência de
sistemas de controle mais fortes de passagem pelas nossas fronteiras, e isso
alimenta o crime – valho-me aqui do que ouço e leio de entendidos no assunto;
de que droga e armas chegam nas cidades por tal caminho, fico perguntando “por
que razão o governo não faz alguma coisa?”. “Por que não implanta sistemas
rigorosos de controle?”.
Sou franco: não conheço bem as fronteiras brasileiras na
região sul, mas as conheço na nossa Amazônia. Aqui, pelo visto, os contingentes
são ínfimos e a própria presença do Exército – veja o exemplo de Rondônia,
limita-se a dois contingentes, um em Guajará-Mirim e outro em Forte Príncipe.
Será que a senhora sabe a distância entre esses dois pontos?
Já viajei de barco naquele espaço e nem é preciso estudar muito para saber que
falta ali a presença do Estado, quer dizer, da estrutura gerida pela senhora, o
que não inclui apenas os militares, esses tolhidos em sua capacidade até (volto
aqui a citar o que ouço e leio de autoridades do setor) porque as verbas são
mais que curtas.
Ah! Mas verba para financiar obras em Cuba, perdoar dívidas
de países africanos ou da Venezuela, para isso o Governo tem. E nem falo da
construção de vários “elefantes brancos” a que jornalistas esportivos
cognominam “arenas”, isso o governo tem de sobra, ainda mais com uma legislação
que permite afrouxamento do controle de contas.
(Sobre os jornalistas esportivos lembro que na década de
1950 o Juca Chaves lançou a música “Caixinha, Obrigado!” e num dos versos ele
afirma que “o futebol é o ganha-pão da imprensa”, daí a defesa que fazem da
Copa num país como o nosso.
Dona Roussef, a senhora socorre o Rio de Janeiro mandando
tropas federais fazer o trabalho que não é sua atividade fim. É um aliado político,
que, como outros governadores anteriores, falhou nesse lado e a senhora talvez
inconscientemente tenha entrado naquela via de que “aos amigos, os favores da
lei”. Além disso, os morros cariocas têm enorme contingente eleitoral e uma ação
dessa forma se transforma em ponto midiático que, creio que a senhora saiba, só
isso não resolve.
Mas a moda é “dar o peixe ao invés de ensinar a pescar”,
como fazem com famílias que vivem da bolsas, dinheiro tirado da extração que
fazem de nossos salários, ação que, a senhora, economista, sabe que tais bolsas
não levam a lugar nenhum – é só fazer uma projeção para 20 anos. É, mas a eleição
é daqui a seis meses e aqui se aplica a lógica de que “mais vale um pássaro na
mão do que dois avoando”.
Daí, dona presidente, que tal olhar para as fronteiras? Aqui,
por incrível que pareça, também é Brasil, talvez até com um sentimento maior de
brasilidade do que em outras regiões do país. Sugiro à senhora ler o “Discurso
do Rio Amazonas” que outro presidente, há 73 anos fez em Manaus. Talvez ali a
senhora encontre forças para nos olhar com a mesma atenção com que socorre o
seu aliado agora.
Inté outro dia, se Deus quiser!
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