sexta-feira, 4 de abril de 2014

1964 EM RONDÔNIA - 5


A POLÍTICA PÓS-CUTUBAS E PELES-CURTAS

Lúcio Albuquerque

(Consultoria do historiador Abnael Machado de Lima)


Na edição de ontem viu-se uma síntese da vida política na região desde a criação dos primeiros municípios, Santo Antonio e Porto Velho, até a cassação do mandato do deputado federal Renato Clímaco de Medeiros, em 1964.

Dois fatos contribuíram para a mudança de rumo político da região rondoniense a partir de 1964: o fato de o governo federal ter voltado suas atenções mais para essa área, o que trouxe centenas de milhares de famílias de outros estados, muitos já com experiência política, para explorar a última fronteira agrícola e se beneficiar do que o eldorado podia oferecer e, também, porque a aposentadoria  do coronel Aluízio Ferreira e a cassação do médico Renato Medeiros, causaram um esvaziamento das velhas práticas políticas e isso representou o ocaso das correntes cutuba e peles-curtas.
Quando Renato Medeiros foi cassado o seu vice, o funcionário do Banco da Amazônia (atual Basa) Hegel Morhy, de Guajará-Mirim, foi convocado e tomou posse, mas não tinha a força de Renato. Em 1966 a ARENA lançou candidato o ex-governador coronel Paulo Nunes Leal, que foi eleito, derrotando Hegel Morhy, pelo MDB. Paulo Leal assumiu e logo depois se licenciou, indo para a vaga o seu suplente, seringalista e jornalista Emanuel Pontes Pinto, que em 1970 tentou a reeleição e perdeu.
Em 1960 o presidente Juscelino Kubistchek mandou abrir a rodovia BR-29 (BR-364), começando um novo e muito importante capítulo na história rondoniense. Aquela década de 1960 foi marcada por uma mobilização que juntou estudantes, dirigentes de entidades comunitárias, jornalistas e praticamente toda a sociedade, o movimento Pró-Rondônia Estado.
Já em 1962 chegou a ser apresentado projeto de lei na Câmara Federal pelo então deputado federal Aluízio Ferreira, propondo a criação do Estado de Rondônia, mas ela não foi considerada – talvez em função de, na mesma ocasião, estar sendo aprovada a criação do Estado do Acre.
Aluízio (paletó) e lideranças cutubas na eleição de 1954

Mas o fato do projeto não ter sido considerado pela Câmara Federal não inibiu a mobilização local. Isso talvez tenha dado até mais força para a mobilização do Pró-Estado, realizando-se debates, discussões, fazendo crescer a ideia que pode ser sintetizada pela frase do governador Humberto da Silva Guedes, em entrevista ao jornal A Tribuna, em 1976: Sou favorável aos que entendem que o crescimento da região faz com que Rondônia não caiba mais na condição de Território.
Em 1969 um novo fato reacendeu a luta pelo fim do Território e a criação do Estado: durante o desfile da Independência, estudantes do colégio Carmela Dutra fizeram uma manifestação em frente ao palanque das autoridades, na Rua Carlos Gomes. O contingente escolar deu alto e ficou marcando passo.
Um pelotão de estudantes – a escola era dirigida pela professora Marise Castiel – saiu do grupo e deslocou-se até ao governador Marques Henriques, entregando-lhe um manifesto pedindo que ele insistisse no Ministério do Interior (*) solicitando seu empenho a favor da criação do Estado e, também uma sugestão de bandeira do novo Estado, lembra o historiador Abnael Machado de Lima.
A bandeira, conforme Abnael,foi elaborada pelo engenheiro José Otino de Freitas, professor do Carmela Dutra. O historiador recorda ainda daquele momento: Pegou a todos nós de surpresa, mas, ao mesmo tempo, serviu para fortalecer a nossa luta a favor do Estado.
Em 1969 o presidente Costa e Silva determinou a realização de eleições para vereadores nos Territórios (Decreto-Lei 411, de 8.1.69), e na eleição daquele ano aparece um fato curioso: dentre os eleitos em Porto Velho pelo partido do governo, a ARENA, estava o jornalista e dirigente comunista Dionísio Xavier da Silveira, o Velho Dió.
O comunista Dió, vereador pela ARENA
Aquele período também foi marcado pela entrada em campo de um importante cabo eleitoral do partido do governo: o INCRA, aplicando o Projeto de Colonização Rondônia, sob a coordenação do capitão agrimensor Sílvio Gonçalves de Faria, que se tornou uma espécie de liderança do Território, tal a força que o INCRA, na época, representava aqui.
Responsável pela implantação do Projeto Fundiário Rondônia – O único caso de reforma agrária no Brasil que deu certo, afirmou o advogado Amadeu Guilherme Matzembacker Machado, que fez parte daquela equipe– o INCRA tinha enorme força política, o maior orçamento do Território, mais que do próprio governo, e havia um fator de destaque: O capitão Sílvio tinha o forte respaldo do Conselho de Segurança Nacional.
O DR BENGALA EM CENA
No ano do tricampeonato mundial brasileiro, um novo discurso entrou em cena, trazido pelo advogado goiano Jerônimo Garcia de Santana (MDB), reeleito em 1974 derrotando o médico Leônidas Rachid Jaudy, da ARENA. Ele havia chegado EM 1968 e se filiado ao MDB, partido formado em maioria pelos remanescentes da ala política local conhecida por peles-curtas.
Tornou-se o mais ferrenho crítico do que vinha acontecendo no Território e três eram seus alvos prediletos, o governador – fosse quem fosse, as mineradoras de cassiterita e o INCRA. Em 1970 foi candidato à única vaga de deputado federal e ganhou fácil. Repetindo o discurso e sempre brandindo uma bengala, Santana repetiu a dose em 1974, agora contra o médico Leônidas Rachid, pela ARENA.
A bengala sempre presente com Jerônimo

Naquela época – até 1977 – só havia dois municípios em Rondônia, Porto Velho, criado em 1914 (que em 1945 absorvera o município de Santo Antonio criado em 1912), e Guajará-Mirim, criado em 1928. Porto Velho estendia suas terras até Vilhena. Guajará-Mirim ia por toda a região dos rios Mamoré e Guaporé, até Pimenteiras e Cabixi.
Em 1972, nova disputa municipal e em Guajará-Mirim a professora Eliete Matha Morhy esposa do ex-deputado federal Hegel Morhy, foi eleita, tornando-se a primeira mulher a ocupar um parlamento em Rondônia, e reeleita em 1972, enquanto em Porto Velho a primeira representante feminina só seria eleita em 1976, a professora Marise Castiel.

Amanhã
1964 em RO (6)
A FORÇA DO VOTO DA BR-364

(Explicação: O capítulo 6 desta série iria abordar O Legado Do Movimento Militar Em Rondônia, mas a partir da eleição municipal de 1976 entrou em cena outra força política local: o voto das comunidades ao longo da BR-364. É o tema de amanhã).

3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto. Aprendi mais a respeito de cutubas e pele-curtas. Já a ousadia do capitão Sílvio Gonçalves de Faria certamente exige um capítulo mais rechonchudo, e sei que você irá proporcioná-lo aos seus leitores. Outro dia você mencionou o caso do colono flagrado pelo capitão quando desmatava um lote e o fazia "com ordens do capitão Sílvio". O jornalista Elson Martins presenciou-o expulsando um latifundiário do seu gabinete, no centro de Porto Velho, naquele prédio onde funcionou também a extinta Companhia de Desenvolvimento de Rondônia (Codaron). O ex-senador e agora deputado federal Amir Lando, homenageou-o na tribuna, oferecendo detalhes a respeito da vida do saudoso coordenador do Incra. Tal discurso passou quase despercebido. Então, juntando fragmentos, Lúcio, você dará mais um presente ao público rondoniense amazônico: o relato da saga desse homem, cujos poderes equivaliam e, em algumas ocasiões, superavam os poderes do governo territorial. Em 1979, vi o corpo do capitão sobre uma cama da Clínica Santa Helena, do médico Carlos Botelho: atacado por quatro cruzes de malária, ele partia, deixando um enorme legado na história agrária de Rondônia.

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  2. boa tarde gostaria da ajuda dos shrs, preciso ter noticias de um senhor que morava ou mora ai o nome dele é Carlos Alberto Melhoral dos santos

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