A POLÍTICA PÓS-CUTUBAS E PELES-CURTAS
Lúcio Albuquerque
(Consultoria do historiador Abnael Machado de Lima)
Na edição de ontem viu-se uma síntese da
vida política na região desde a criação dos primeiros municípios, Santo Antonio
e Porto Velho, até a cassação do mandato do deputado federal Renato Clímaco de
Medeiros, em 1964.
Dois fatos contribuíram para a
mudança de rumo político da região rondoniense a partir de 1964: o fato de o
governo federal ter voltado suas atenções mais para essa área, o que trouxe
centenas de milhares de famílias de outros estados, muitos já com experiência
política, para explorar a última
fronteira agrícola e se beneficiar do que o eldorado podia oferecer e, também, porque a aposentadoria do coronel
Aluízio Ferreira e a cassação do médico Renato Medeiros, causaram um
esvaziamento das velhas práticas políticas e isso representou o ocaso das
correntes cutuba e peles-curtas.
Quando Renato Medeiros foi cassado
o seu vice, o funcionário do Banco da Amazônia (atual Basa) Hegel Morhy, de
Guajará-Mirim, foi convocado e tomou posse, mas não tinha a força de Renato. Em
1966 a ARENA lançou candidato o ex-governador coronel Paulo Nunes Leal, que foi
eleito, derrotando Hegel Morhy, pelo MDB. Paulo Leal assumiu e logo depois se licenciou,
indo para a vaga o seu suplente, seringalista e jornalista Emanuel Pontes
Pinto, que em 1970 tentou a reeleição e perdeu.
Em 1960 o presidente Juscelino
Kubistchek mandou abrir a rodovia BR-29 (BR-364), começando um novo e muito
importante capítulo na história rondoniense. Aquela década de 1960 foi marcada
por uma mobilização que juntou estudantes, dirigentes de entidades
comunitárias, jornalistas e praticamente toda a sociedade, o movimento
Pró-Rondônia Estado.
Já em 1962 chegou a ser apresentado
projeto de lei na Câmara Federal pelo então deputado federal Aluízio Ferreira,
propondo a criação do Estado de Rondônia, mas ela não foi considerada – talvez
em função de, na mesma ocasião, estar sendo aprovada a criação do Estado do
Acre.
Aluízio (paletó) e lideranças cutubas na eleição de 1954
Mas o fato do projeto não ter sido
considerado pela Câmara Federal não inibiu a mobilização local. Isso talvez
tenha dado até mais força para a mobilização do Pró-Estado, realizando-se debates,
discussões, fazendo crescer a ideia que pode ser sintetizada pela frase do
governador Humberto da Silva Guedes, em entrevista ao jornal A Tribuna, em
1976: Sou favorável aos que entendem que
o crescimento da região faz com que Rondônia não caiba mais na condição de
Território.
Em 1969 um novo fato reacendeu a
luta pelo fim do Território e a criação do Estado: durante o desfile da
Independência, estudantes do colégio Carmela Dutra fizeram uma manifestação em
frente ao palanque das autoridades, na Rua Carlos Gomes. O contingente escolar
deu alto e ficou marcando passo.
Um
pelotão de estudantes – a escola era dirigida pela professora Marise
Castiel – saiu do grupo e deslocou-se até
ao governador Marques Henriques, entregando-lhe um manifesto pedindo que ele
insistisse no Ministério do Interior (*) solicitando seu empenho a favor da
criação do Estado e, também uma sugestão de bandeira do novo Estado, lembra
o historiador Abnael Machado de Lima.
A bandeira, conforme Abnael,foi
elaborada pelo engenheiro José Otino de Freitas, professor do Carmela Dutra. O historiador recorda
ainda daquele momento: Pegou a todos nós
de surpresa, mas, ao mesmo tempo, serviu para fortalecer a nossa luta a favor
do Estado.
Em 1969 o presidente Costa e Silva
determinou a realização de eleições para vereadores nos Territórios
(Decreto-Lei 411, de 8.1.69), e na eleição daquele ano aparece um fato curioso:
dentre os eleitos em Porto Velho pelo partido do governo, a ARENA, estava o
jornalista e dirigente comunista Dionísio Xavier da Silveira, o Velho Dió.
O comunista Dió, vereador pela ARENA
Aquele período também foi marcado
pela entrada em campo de um
importante cabo eleitoral do partido do governo: o INCRA, aplicando o Projeto
de Colonização Rondônia, sob a coordenação do capitão agrimensor Sílvio
Gonçalves de Faria, que se tornou uma espécie de liderança do Território, tal a
força que o INCRA, na época, representava aqui.
Responsável pela implantação do
Projeto Fundiário Rondônia – O único caso
de reforma agrária no Brasil que deu certo, afirmou o advogado Amadeu
Guilherme Matzembacker Machado, que fez parte daquela equipe– o INCRA tinha
enorme força política, o maior orçamento do Território, mais que do próprio
governo, e havia um fator de destaque: O
capitão Sílvio tinha o forte respaldo do Conselho de Segurança Nacional.
O DR BENGALA EM CENA
No ano do tricampeonato mundial
brasileiro, um novo discurso entrou em cena, trazido pelo advogado goiano
Jerônimo Garcia de Santana (MDB), reeleito em 1974 derrotando o médico Leônidas
Rachid Jaudy, da ARENA. Ele havia chegado EM 1968 e se filiado ao
MDB, partido formado em maioria pelos remanescentes da ala política local
conhecida por peles-curtas.
Tornou-se o mais ferrenho crítico
do que vinha acontecendo no Território e três eram seus alvos prediletos, o
governador – fosse quem fosse, as mineradoras de cassiterita e o INCRA. Em 1970 foi candidato à única vaga de
deputado federal e ganhou fácil. Repetindo o discurso e sempre brandindo uma bengala, Santana repetiu a dose em 1974, agora contra o médico
Leônidas Rachid, pela ARENA.
A bengala sempre presente com Jerônimo
Naquela época – até 1977 – só havia
dois municípios em Rondônia, Porto Velho, criado em 1914 (que em 1945 absorvera
o município de Santo Antonio criado em 1912), e Guajará-Mirim, criado em 1928.
Porto Velho estendia suas terras até Vilhena. Guajará-Mirim ia por toda a
região dos rios Mamoré e Guaporé, até Pimenteiras e Cabixi.
Em 1972, nova disputa municipal e
em Guajará-Mirim a professora Eliete Matha Morhy esposa do ex-deputado federal
Hegel Morhy, foi eleita, tornando-se a primeira mulher a ocupar um parlamento
em Rondônia, e reeleita em 1972, enquanto em Porto Velho a primeira representante
feminina só seria eleita em 1976, a professora Marise Castiel.
Amanhã
1964 em RO (6)
A FORÇA DO VOTO DA BR-364
(Explicação:
O capítulo 6 desta série iria abordar O
Legado Do Movimento Militar Em Rondônia, mas a partir da eleição municipal
de 1976 entrou em cena outra força política local: o voto das comunidades ao
longo da BR-364. É o tema de amanhã).
Parabéns pelo texto. Aprendi mais a respeito de cutubas e pele-curtas. Já a ousadia do capitão Sílvio Gonçalves de Faria certamente exige um capítulo mais rechonchudo, e sei que você irá proporcioná-lo aos seus leitores. Outro dia você mencionou o caso do colono flagrado pelo capitão quando desmatava um lote e o fazia "com ordens do capitão Sílvio". O jornalista Elson Martins presenciou-o expulsando um latifundiário do seu gabinete, no centro de Porto Velho, naquele prédio onde funcionou também a extinta Companhia de Desenvolvimento de Rondônia (Codaron). O ex-senador e agora deputado federal Amir Lando, homenageou-o na tribuna, oferecendo detalhes a respeito da vida do saudoso coordenador do Incra. Tal discurso passou quase despercebido. Então, juntando fragmentos, Lúcio, você dará mais um presente ao público rondoniense amazônico: o relato da saga desse homem, cujos poderes equivaliam e, em algumas ocasiões, superavam os poderes do governo territorial. Em 1979, vi o corpo do capitão sobre uma cama da Clínica Santa Helena, do médico Carlos Botelho: atacado por quatro cruzes de malária, ele partia, deixando um enorme legado na história agrária de Rondônia.
ResponderExcluirboa tarde gostaria da ajuda dos shrs, preciso ter noticias de um senhor que morava ou mora ai o nome dele é Carlos Alberto Melhoral dos santos
ResponderExcluirmeus contato são 92 981102266 karan simao
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