Dona Gilsa Guedes
(Coluna Conta-gotas –
agosto 2007)
O jornalista Montezuma
Cruz me rebate à notícia do 1º ano de falecimento do jornalista Paulinho
Correia, com outra notícia desagradável: faleceu em Brasília, vítima de um
forte acidente vascular cerebral (AVC) a senhora Gilsa Auvray Guedes.
Foi dia 3 de agosto, mas
com certeza se alguém soube por aqui deve ter guardado bem a (infausta)
notícia: liguei para duas pessoas que trabalharam diretamente com o
governador Humberto Guedes, marido de dona Gilsa, e eles não sabiam
da ocorrência, o jornalista Ciro Pinheiro e o secretário do gabinete da
presidência do Tribunal de Contas Jader Moreira Pinto.
Dona Gilsa conversando com Roberto Carlos na única vinda dele a Porto Velho.
Ao lado o jornalista Ciro Pinheiro
Para quem não lembra, ou
para quem não sabe, dona Gilsa era esposa do governador que plantou as
bases para que Rondônia deixasse de ser Território e desse lugar ao
Estado, o coronel Humberto da Silva Guedes, que governou o Território de
junho de 1975 a
abril de 1979, uma figura que precisa ser melhor
lembrada na historiografia rondoniense.
Mas não estou aqui para
falar do ex-governador, apesar de reconhecer que se somos Estado temos
muito a agradecer a ele, à percepção que ele teve de que Rondônia não cabia
mais na condição de Território. A intenção é falar sobre dona Gilsa,
em cuja casa, em Brasília, estive em 2005, em companhia dos jornalistas
Montezuma Cruz e José Carlos Sá, para uma entrevista com o
ex-governador - ela estava viajando.
Eu não tinha relação
maior que de repórter com fonte de informação com
dona Gilsa, mas nunca
deixei de admirar a vontade que ela demonstrava
de ajudar outras pessoas,
podendo citar dois fatos, um o empenho dela no atendimento a pessoas
humildes no único hospital de então, o São José (hoje policlínica da PM),
quando, o testemunho foi de um médico, chegou a se atritar com alguns
desses profissionais na ânsia de ajudar doentes.
Foi dela a inspiração
para criar o bairro Pedacinho de Chão, em Porto
Velho, quando,
literalmente, saiu pedindo ajuda de comerciantes e outras pessoas para doar
materiais necessários a que as famílias que foram deslocadas para ali tivessem,
pelo menos, meios para iniciar a nova vida.
Na grande enchente de
1977, quando o Ramal São Domingos, aquele tre
cho do bairro do
Triângulo que comumente alaga, foi tomado pelas águas, dona Gilsa ia de canoa,
de casa em casa de alagado oferecer ajuda, fato que me surpreendeu, não
pela oferta de ajuda, mas por encontrar a esposa de um governador, sem
qualquer assessoria apenas dois remadores, numa canoa comum, fazendo
aquele trabalho.
Ela ia à casa de cada
família propor que se mudassem para o novo bairro, àquela altura muito
distante do centro da cidade e com todos os problemas decorrentes da falta de
estrutura, da água que não tinha à inexistência de linha de ônibus.
Inspirada numa
telenovela, dona Gilsa batizou o novo núcleo que estava
nascendo em Porto Velho com o nome
da série, Meu Pedacinho de Chão,
que já “nasceu” com áreas
definidas para igreja, colégio, escola infantil,
mercado - se não me
engano com seu traço urbano desenhado pelo prefeito Antonio Carlos Cabral
Carpintero. O novo bairro
surgia pensado para o futuro, como a cidade de Ariquemes, também da prancheta de
Carpintero, mostrando que planejamento era fato comum na administração de Humberto Guedes.
Prefiro lembrar das
pessoas como as vi, como as conheci. Dona Gilsa,
sempre que sua figura vem
à minha mente, lembro dela sentada na canoa (e é dessa forma que vou
continuar lembrando), visitando as famílias em meio à alagação, cena que
surpreendeu outro jornalista da época - e futuro presidente da Assembléia
Legislativa - o professor Amizael Silva, também já falecido, que, ele
pelo O Guaporé e eu pelo Alto Madeira, mas na mesma canoa, estávamos no
local fazendo reportagem sobre a alagação.
Dizer ao governador
Guedes e sua família dos meus sentimentos, é fato
real. Mas eu precisava
também expor do respeito que sempre tive pela
dona Gilsa.
PS - Texto publicado agora numa homenagem à senhora Gilsa Guedes, que buscou uma solução digna para os moradores da área alagada e que, mesmo recebendo os lotes e as casas preferiram voltar para a alagação, muitos deles vendendo o que receberam de graça.
As Gilsas estão escassas nos governos.
ResponderExcluirGrande Lúcio, você ainda é um dos poucos do jornalismo que podem nos narrar esses fatos, como o da Dona Gilsa. Eu me lembro que eu trabalhava na Brasilit, quando surgiu a ideia do bairro meu Pedacinho de Chão e me lembro muito bem que na época, a Brasilit fez uma doação de telhas de 4mm (não me lembro a quantidade). Mas sei que ela pediu, no nome dela, para ajudar as pessoas do Ramal São Domingos, que estavam sendo transferidos para o recém criado bairro Pedacinho de Chão. Fiquei triste com a notícia do falecimento da dna Gilsa. Pois tudo o que você falou a respeito dela é a mais pura verdade.
ResponderExcluirObs: Falta você pedir para o seu Benu contar a história da visita dos restos mortais do D. Pedro I a PVH em 1972. Obrigado,
Flávio Daniel