quarta-feira, 30 de abril de 2014

TENENTE FERNANDO – 70 ANOS  DESAPARECIDO (6)
As muitas versões de um caso nunca explicado
Lúcio Albuquerque

Consultor: Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da
Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia


versões para todos os gostos para explicar – ou será para confundir? – o desaparecimento do tenente Fernando Gomes de Oliveira, na tarde de domingo, 29 de julho de 1945. Apesar de todas as varreduras feitas por tropas do Exército com apoio de mateiros, de boatos de toda a ordem, só se tem certeza de duas coisas.
1 – O tenente Fernando desapareceu.
2 – Ninguém tem uma versão definitiva sobre como ele sumiu.
Todas as versões geraram uma confusão que qualquer investigador não teria muitas linhas de trabalho para definir como a coisa aconteceu. O jornalista Euro Tourinho, do jornal Alto Madeira, descarta uma delas, a de que o oficial sumiu para que se concretizasse a ameaça que teria sido feita pela Mãe de santo Esperança Rita que, ao ter seu terreiro praticamente destruído pela patrulha comandada pelo tenente Fernando, teria dito que ele iria pagar.
“Essa versão de que tudo foi um castigo dos orixás não tem fundamento”, disse Euro ao falar do assunto, mas uma importante figura religiosa garante que “os encantados da floresta podem ter cumprido a ameaça de Mãe Esperança”.
O GENERAL ÊNIO PINHEIRO

Fazia 51 anos que o tenente-engenheiro do Exército Fernando Gomes de Oliveira, sumira nas selvas na região de São Pedro.

Em 1997, por ocasião do centenário do nascimento do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira, o general Ênio Pinheiro, sem que ninguém o provocasse, perante membros da Academia de Letras de Rondônia em reunião no gabinete do vice-governador Aparício Carvalho e na presença do governador Valdir Raupp, negou que Aluízio tenha tido algo com o desaparecimento daquele oficial. A citação pegou de surpresa os participantes e causou algum mal-estar.
(Mais ou menos como quando você chega em casa e seu filho lhe diz: - Não fui eu quem quebrou o jarro. Ninguém perguntou)
Mas, para entender o que aconteceu, é preciso voltar no tempo e se situar numa época já distante, quando Porto Velho tinha menos de 6 mil habitantes e quem mandava e desmandava, sem contestação, era o governador Aluízio Pinheiro Ferreira.
Naquela época, de comunicação rápida só havia o telégrafo cujas cópias, dizem os mais antigos, se tratasse de assunto de interesse do governador de plantão ia primeiro para ele ler. A Justiça era representada por um juiz, quando havia, e se vivia num período de exceção sob a ditadura de Vargas, amigo de Aluízio Ferreira.
Poucos historiadores locais – afora a professora e historiadora Yêda Borzacov – se aprofundam no caso do tenente Fernando, apesar da repercussão na Imprensa nacional que chegou a mandar a Porto Velho repórteres de primeira linha, dando ao fato uma cobertura enorme, como fez a revista O Cruzeiro. Além disso, o Exército fez diversas varreduras na região onde o oficial desapareceu, inclusive utilizando-se aviões militares e comerciais, tentando sua localização, sem nenhum resultado.
Quem mais se estende sobre o assunto é o (então) capitão Ênio Pinheiro, primo de Aluízio e, àquela altura, comandante da 2a. Companhia Rodoviária Independente e chefe imediato do tenente Fernando, no livro “À sombra de Rondon e Juarez”, em que Ênio narra sua trajetória como oficial da arma de Engenharia do Exército.
Mas também não oferece qualquer linha positiva para uma investigação 70 anos depois.
VERSÕES
O oficial teria sido sequestrado pelos índios Boca-Negra para servir de reprodutor e apurar a raça da tribo
O oficial teria sido vítima de um atentado por pessoas ligadas ao governador
O oficial teria se perdido na mata
O oficial teria sumido num buraco da selva 
O oficial teria sido vítima do ataque de algum animal
O oficial teria sido jogado num rio, amarrado a uma pedra

O oficial teria sido vítima da maldição a ele atirada por uma mãe-de-santo do terreiro Santa Bárbara porque teria, ao comandar uma patrulha do Exército, invadido locais sagrados e quebrado imagens (*).

 Há alguns anos uma mulher teria se apresentado ao historiador Francisco Matias, dizendo ser neta do tenente Fernando e contando que, depois de se perder na selva ele teria seguido em frente até chegar à cidade de Xapuri (AC), onde constituíra família, mas não se pode confirmar a estória ouvida por Matias.

(*) Segundo uma fonte ouvida pelo autor o espírito do tenente Fernando teria se apresentado durante uma sessão num terreiro e pedido desculpas, mas uma importante autoridade dessa religião disse desconhecer o fato.



Amanhã

TENENTE FERNANDO – SETENTA ANOS DESAPARECIDO (7)

As mudanças que o tenente não viu.

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