TENENTE FERNANDO – 70 ANOS DESAPARECIDO (6)
As muitas versões de um caso nunca explicado
Lúcio Albuquerque
Consultor: Abnael Machado
de Lima, professor, historiador, membro da
Academia de Letras e do
Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia
Há versões para todos os gostos para explicar – ou
será para confundir? – o desaparecimento do tenente Fernando Gomes de
Oliveira, na tarde de domingo, 29 de julho de 1945. Apesar de todas as varreduras feitas por tropas do Exército
com apoio de mateiros, de boatos de toda a ordem, só se tem certeza de duas
coisas.
1
– O tenente Fernando desapareceu.
2
– Ninguém tem uma versão definitiva sobre como ele sumiu.
Todas
as versões geraram uma confusão que qualquer investigador não teria muitas
linhas de trabalho para definir como a coisa aconteceu. O jornalista Euro
Tourinho, do jornal Alto Madeira, descarta uma delas, a de que o oficial sumiu
para que se concretizasse a ameaça que teria sido feita pela Mãe de santo
Esperança Rita que, ao ter seu terreiro praticamente destruído pela patrulha
comandada pelo tenente Fernando, teria dito que ele iria pagar.
“Essa
versão de que tudo foi um castigo dos orixás não tem fundamento”, disse Euro ao
falar do assunto, mas uma importante figura religiosa garante que “os
encantados da floresta podem ter cumprido a ameaça de Mãe Esperança”.
O GENERAL
ÊNIO PINHEIRO
Fazia
51 anos que o tenente-engenheiro do Exército Fernando Gomes de Oliveira, sumira
nas selvas na região de São Pedro.
Em
1997, por ocasião do centenário do nascimento do coronel Aluízio Pinheiro
Ferreira, o general Ênio Pinheiro, sem que ninguém o provocasse, perante
membros da Academia de Letras de Rondônia em reunião no gabinete do
vice-governador Aparício Carvalho e na presença do governador Valdir Raupp,
negou que Aluízio tenha tido algo com o desaparecimento daquele oficial. A
citação pegou de surpresa os participantes e causou algum mal-estar.
(Mais ou
menos como quando você chega em casa e seu filho lhe diz: - Não fui eu quem
quebrou o jarro. Ninguém perguntou)
Mas, para entender o que
aconteceu, é preciso voltar no tempo e se situar numa época já distante, quando
Porto Velho tinha menos de 6 mil habitantes e quem mandava e desmandava, sem
contestação, era o governador Aluízio Pinheiro Ferreira.
Naquela época, de
comunicação rápida só havia o telégrafo cujas cópias, dizem os mais antigos, se
tratasse de assunto de interesse do governador de plantão ia primeiro para ele
ler. A Justiça era representada por um juiz, quando havia, e se vivia num
período de exceção sob a ditadura de Vargas, amigo de Aluízio Ferreira.
Poucos historiadores
locais – afora a professora e historiadora Yêda Borzacov – se aprofundam no
caso do tenente Fernando, apesar da repercussão na Imprensa nacional que chegou
a mandar a Porto Velho repórteres de primeira linha, dando ao fato uma
cobertura enorme, como fez a revista O Cruzeiro. Além disso, o Exército fez
diversas varreduras na região onde o oficial desapareceu, inclusive
utilizando-se aviões militares e comerciais, tentando sua localização, sem
nenhum resultado.
Quem mais se estende sobre
o assunto é o (então) capitão Ênio Pinheiro, primo de Aluízio e, àquela altura,
comandante da 2a. Companhia Rodoviária Independente e chefe imediato
do tenente Fernando, no livro “À sombra de Rondon e Juarez”, em que Ênio
narra sua trajetória como oficial da arma de Engenharia do Exército.
Mas também não oferece
qualquer linha positiva para uma investigação 70 anos depois.
VERSÕES
O oficial teria sido sequestrado
pelos índios Boca-Negra para servir de reprodutor e apurar a raça da tribo
O oficial teria sido
vítima de um atentado por pessoas ligadas ao governador
O oficial teria se perdido
na mata
O oficial teria sumido num
buraco da selva
O oficial teria sido
vítima do ataque de algum animal
O oficial teria sido
jogado num rio, amarrado a uma pedra
O oficial teria sido vítima da
maldição a ele atirada por uma mãe-de-santo do terreiro Santa Bárbara porque
teria, ao comandar uma patrulha do Exército, invadido locais sagrados e
quebrado imagens (*).
Há alguns anos uma mulher teria se apresentado ao historiador Francisco Matias, dizendo ser neta do tenente Fernando e contando que, depois de se perder na selva ele teria seguido em frente até chegar à cidade de Xapuri (AC), onde constituíra família, mas não se pode confirmar a estória ouvida por Matias.
(*) Segundo uma fonte ouvida pelo autor o espírito do tenente Fernando teria se apresentado durante uma sessão num terreiro e pedido desculpas, mas uma importante autoridade dessa religião disse desconhecer o fato.
Amanhã
TENENTE FERNANDO – SETENTA ANOS DESAPARECIDO (7)
As mudanças que o tenente não viu.
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