A selva engole
o oficial, caçando um inambu
Lúcio
Albuquerque
Consultor:
Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da
Academia de
Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia
Domingo, 29 de
julho de 1945. São 15 horas e em
Porto Velho todos seus habitantes, à frente o governador
Aluízio Pinheiro Ferreira e o capitão Ênio Pinheiro, primo do governador,
comandante da 2ª Companhia Rodoviária Independente, estão na margem do Rio
Madeira para receber, com toda a pompa, o embaixador norte-americano Adolpho
Bergory, cujo hidroavião vai amerissar em frente à cidade.
Para a população
era um momento muito especial, só superado por outro, cinco anos antes, quando
o presidente Getúlio Vargas e
comitiva amerissaram em frente ao então município de Porto Velho. Agora era o
representante do Tio Sam e da
recepção constavam a tradicional visita às instalações da ferrovia
Madeira-Mamoré, o desfile cívico-militar e outras atividades do gênero para bem
impressionar o ilustre visitante.
A 50 quilômetros dali
no sentido Ariquemes, na localidade de São Pedro, onde está a vanguarda dos
trabalhos de abertura da rodovia Amazonas/Mato Grosso, vai acontecer um fato
que se transformará num emaranhado e, por extensão, colocar um personagem que
praticamente passaria em branco na História de Rondônia, no centro de um drama
que envolve um enredo de versões e levantar suspeitas sobre a biografia do
principal líder político que já existiu na região, o coronel Aluízio Pinheiro
Ferreira.
Naquela hora
desapareceria o 1º tenente engenheiro do Exército Fernando Gomes de Oliveira,
comandante do grupamento mais avançado da 2ª Companhia Rodoviária Independente.
Setenta anos
depois, apesar da varredura feita pelo Exército, com apoio de tropas
norte-americanas especializadas em busca na selva, uma pergunta ainda está sem
resposta:
Que fim levou o
tenente Fernando?
As versões para
o sumiço são várias: sequestrado por índios, devorado por alguma fera, sumido
num buraco na selva, vítima da vingança de uma mãe-de-santo ou simplesmente
teria se perdido na mata.
Mas, talvez até
por injunções políticas, o maior envolvido foi o então governador do Território
Federal do Guaporé Aluízio Ferreira, e há duas versões para esse envolvimento:
1) a de que o tenente teria se envolvido na disputa por uma mulher que seria do
agrado do governador; 2) porque o oficial teria ameaçado denunciar Aluízio
sobre o suposto desaparecimento de um trator da 2ª Rodoviária Independente
durante o transporte fluvial de Belém a Porto Velho.
Aluízio, no entanto,
conforme documentos diversos, chegou a
ser elogiado por autoridades militares pelo empenho demonstrado, mobilizando
meios disponíveis no Território para tentar encontrar o tenente Fernando, sem
sucesso.
O historiador Esron Penha
de Menezes, por diversas vezes, e o funcionário público Walter Bártolo, este em entrevista concedida ao autor, ao
historiador Francisco Matias e ao jornalista Adaídes – Dadá – dos Santos,
repetiam sempre a mesma coisa: que o envolvimento de Aluízio Ferreira com o
sumiço do oficial só teria surgido durante a disputa política a partir de 1947
quando se formaram dois grupos, o aluizista
conhecido por cutubas e a
oposição, chamada pele-curta.
Bártolo, várias vezes garantiu que estava no
acampamento quando do desaparecimento do tenente Fernando. Na entrevista ele disse: "Nós estávamos jogando dominó quando ele saiu para caça, chamou dois companheiros e uns 30 minutos depois os dois voltaram dizendo que o tenente havia desaparecido".
Amanhã: TENENTE FERNANDO – 70 ANOS DESAPARECIDO (4)
Uma
busca nunca concluída, mas sempre sem resultados
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