DESCULPE RONDON
Lúcio Albuquerque
Pois é, Rondon - desculpe chamá-lo assim,
informalmente, apesar da sua importância histórica para o Brasil e para
Rondônia. É que eu nunca gostei de títulos, afora os ganhos pelo Fluminense,
pelo Garantido, pela Mangueira e pelo Voleibol, porque detesto formalidade,
rapapés, essas coisas que, na maioria das vezes, só servem para demonstrar bajulação.
Está certo, o correto seria eu escrever "Marechal
Candido Mariano da Silva Rondon", e nada mais que justo, garanto, porque
sei e admiro seus méritos desde quando era menino e comecei a ter interesse por
História, e ouvir falar dos grandes nomes deste país e, claro, dentre os
principais, e olha que são bem poucos, está o seu.
Também sou daqueles que aderem à frase do jornalista
Nelson Rodrigues, de que "toda unanimidade é burra". Daí entendo
haver necessidade de ser explicado sobre dúvidas acerca de fatos de sua
biografia, por isso vejo que seria bem salutar uma discussão que abordasse seu
vulto dentro de dois prismas, "o homem" e "o mito", por
entender que ela seria muito mais ilustrativa de sua biografia, até porque em
tendo sido humano, como todos, você também teve o direito, humano, de errar.
Busto de Rondon na praça que leva seu nome, em Porto Velho - foto da década de 1940. O prédio ao fundo era o Fórum de Justiça
Mas, Rondon, voltando, como dizia minha mãe, "à
vaca fria", quer dizer, ao assunto específico deste comentário, nada mais
justo que pedir-lhe desculpas. Tudo pelo que tem sido feito para deslustrar e
até jogar debaixo do tapete o seu nome, a sua biografia, o muito que você fez -
não especificamente por nossa região, mas pelo Brasil.
Primeiro esqueceram de sua data maior, o 5 de maio. E
olha que eu ainda lembro bem que quando aportei aqui para ficar alguns meses, e
já vão lá 37 anos - é porque não disseram quando começaria a contar os tais
meses, o 5 de Maio era uma espécie de feriado, data de comemorações, de
discursos como fez o juiz Cesar Soares de Montenegro, ao ler sua biografia em
1976, lembrando o menino de Mimoso.
Mas aos poucos foram esquecendo.
Depois apareceu um idiota que "plantou" um
novo nome para a Praça que desde a década de 1940 tem como patrono você mesmo,
a Praça General Rondon. Pior, Rondon, que dentre os idiotas encontram-se secretários municipais que, como muitos governantes, não têm o menor respeito pela história e pelos que construíram que hoje tripudiam.
Ah!, suspiram alguns da faixa aí acima dos 50 anos
quando passam ali. Lembram de um tempo em que Porto Velho
não tinha emissora de rádio e aí um funcionário dos Correios que morava numa
das casas do entorno da praça, sintonizava uma emissora "do sul" para
ouvir o noticiário ou, então, o futebol. Ou para ouvir música, os programas de calouros comandados por Ary Barroso.
E juntava uma multidão para ouvir.
Lembram quantos namoros, noivados e casamentos se
iniciaram ali, onde nos finais das tardes de sábados, domingos e feriados os
jovens ficavam circulando, trocando olhares, enviando bilhetinhos ou apenas
esperando para a hora do filme no Cine Resky ou no Cine Brasil, e então ter a
oportunidade de se aproximar mais um do outro.
Se o seu busto, instalado na praça, pudesse contar,
quanta coisa você teria para nos contar, do que viu, do que ouviu, da tristeza
que sente por sentir-se abandonado, igual a alguns idosos cujos familiares colocam
em qualquer asilo e esquecem, como se
não tivessem tido qualquer valor.
Pois é Rondon, desculpe. O 5 de maio outra vez passou
e, à exemplo de algumas datas anteriores de uns tempo para cá, cada vez mais
marginalizado na nossa história. Nessa época de fast-food, de self-service e
similares, até quem tem a obrigação legal (não legal de "boa", mas
legal de “perante a Lei”) o deixou de lado.
Mas, que me desculpem os que gostam de falar da nossa
história apenas como mote de discursos, eu vou continuar falando, ensinando a
meus netos que, muito antes deles, existiram algumas figuras que muito deram
para construir nossa terra. E dentre as figuras você aparece em primeiro lugar.
Permita-me contar, e não que sirva de consolo, mas
apenas para você ver que não é o único
que a nossa história marginaliza. Há alguns anos funcionava em Ji-Paraná a
Escola Técnica Agrícola Sílvio Gonçalves de Faria. Num restaurante um grupo de
estudantes dali conversavam e um deles perguntou quem fora o patrono da da
Escola. Um deles respondeu "na bucha":
- Foi um tenente da PM que morreu afogado no Rio
Machado.
(Para quem não sabe o Rio Machado banha Ji-Paraná).
E foi aí que uma pessoa próxima, que trabalhara com o
capitão Sílvio, foi-lhes contar quem
fora o patrono da escola deles. Bom, e antes que algum leitor se pergunte o que
fizera aquela figura é bom lembrar que ele comandou a execução do projeto
fundiário já feito no Brasil, e que permitiu o desenvolvimento do Território e
a criação do Estado.
Contar assim, rapidinho, para não tomar tempo, nem
para lembrar que muitos pais dos que hoje tripudiam sobre a nossa História,
vieram de suas plagas e encontraram sua "terra do leite e do mel"
porque figuras como você, o capitão Sílvio, a professora Marise Castiel, o
Aluízio Ferreira, os governadores Humberto Guedes e Paulo Leal e outras, plantaram o caminho antes de seus pais o
palmilharem.
Pois é,Rondon, desculpe....
Inté outro dia, se Deus quiser!
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