quinta-feira, 1 de maio de 2014

ALAGADOS JÁ GANHARAM OUTRA OPORTUNIDADE

Dona Gilsa Guedes

(Coluna Conta-gotas – agosto 2007)

O jornalista Montezuma Cruz me rebate à notícia do 1º ano de falecimento do jornalista Paulinho Correia, com outra notícia desagradável: faleceu em Brasília, vítima de um forte acidente vascular cerebral (AVC) a senhora Gilsa Auvray Guedes.
Foi dia 3 de agosto, mas com certeza se alguém soube por aqui deve ter guardado bem a (infausta) notícia: liguei para duas pessoas que trabalharam diretamente com o governador Humberto Guedes, marido de dona Gilsa, e eles não sabiam da ocorrência, o jornalista Ciro Pinheiro e o secretário do gabinete da presidência do Tribunal de Contas Jader Moreira Pinto.
Dona Gilsa conversando com Roberto Carlos na única vinda dele a Porto Velho.
Ao lado o jornalista Ciro Pinheiro

Para quem não lembra, ou para quem não sabe, dona Gilsa era esposa do governador que plantou as bases para que Rondônia deixasse de ser Território e desse lugar ao Estado, o coronel Humberto da Silva Guedes, que governou o Território de junho de 1975 a abril de 1979, uma figura que precisa ser melhor lembrada na historiografia rondoniense.
Mas não estou aqui para falar do ex-governador, apesar de reconhecer que se somos Estado temos muito a agradecer a ele, à percepção que ele teve de que Rondônia não cabia mais na condição de Território. A intenção é falar sobre dona Gilsa, em cuja casa, em Brasília, estive em 2005, em companhia dos jornalistas Montezuma Cruz e José Carlos Sá, para uma entrevista com o ex-governador - ela estava viajando.
Eu não tinha relação maior que de repórter com fonte de informação com
dona Gilsa, mas nunca deixei de admirar a vontade que ela demonstrava
de ajudar outras pessoas, podendo citar dois fatos, um o empenho dela no atendimento a pessoas humildes no único hospital de então, o São José (hoje policlínica da PM), quando, o testemunho foi de um médico, chegou a se atritar com alguns desses profissionais na ânsia de ajudar doentes.
Foi dela a inspiração para criar o bairro Pedacinho de Chão, em Porto
Velho, quando, literalmente, saiu pedindo ajuda de comerciantes e outras pessoas para doar materiais necessários a que as famílias que foram deslocadas para ali tivessem, pelo menos, meios para iniciar a nova vida.
Na grande enchente de 1977, quando o Ramal São Domingos, aquele tre
cho do bairro do Triângulo que comumente alaga, foi tomado pelas águas, dona Gilsa ia de canoa, de casa em casa de alagado oferecer ajuda, fato que me surpreendeu, não pela oferta de ajuda, mas por encontrar a esposa de um governador, sem qualquer assessoria apenas dois remadores, numa canoa comum, fazendo aquele trabalho.
Ela ia à casa de cada família propor que se mudassem para o novo bairro, àquela altura muito distante do centro da cidade e com todos os problemas decorrentes da falta de estrutura, da água que não tinha à inexistência de linha de ônibus. 
Inspirada numa telenovela, dona Gilsa batizou o novo núcleo que estava
nascendo em Porto Velho com o nome da série, Meu Pedacinho de Chão,
que já “nasceu” com áreas definidas para igreja, colégio, escola infantil,
mercado - se não me engano com seu traço urbano desenhado pelo prefeito Antonio Carlos Cabral Carpintero. O novo bairro surgia pensado para o futuro, como a cidade de Ariquemes, também da prancheta de 
Carpintero, mostrando que planejamento era fato comum  na administração de Humberto Guedes.
Prefiro lembrar das pessoas como as vi, como as conheci. Dona Gilsa,
sempre que sua figura vem à minha mente, lembro dela sentada na canoa (e é dessa forma que vou continuar lembrando), visitando as famílias em meio à alagação, cena que surpreendeu outro jornalista da época - e futuro presidente da Assembléia Legislativa - o professor Amizael Silva, também já falecido, que, ele pelo O Guaporé e eu pelo Alto Madeira, mas na mesma canoa, estávamos no local fazendo reportagem sobre a alagação.
Dizer ao governador Guedes e sua família dos meus sentimentos, é fato
real. Mas eu precisava também expor do respeito que sempre tive pela
dona Gilsa.

PS  - Texto publicado agora numa homenagem à senhora Gilsa Guedes, que buscou uma solução digna para os moradores da área alagada e que, mesmo recebendo os lotes e as casas preferiram voltar para a alagação, muitos deles vendendo o que receberam de graça.


2 comentários:

  1. As Gilsas estão escassas nos governos.

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  2. Grande Lúcio, você ainda é um dos poucos do jornalismo que podem nos narrar esses fatos, como o da Dona Gilsa. Eu me lembro que eu trabalhava na Brasilit, quando surgiu a ideia do bairro meu Pedacinho de Chão e me lembro muito bem que na época, a Brasilit fez uma doação de telhas de 4mm (não me lembro a quantidade). Mas sei que ela pediu, no nome dela, para ajudar as pessoas do Ramal São Domingos, que estavam sendo transferidos para o recém criado bairro Pedacinho de Chão. Fiquei triste com a notícia do falecimento da dna Gilsa. Pois tudo o que você falou a respeito dela é a mais pura verdade.

    Obs: Falta você pedir para o seu Benu contar a história da visita dos restos mortais do D. Pedro I a PVH em 1972. Obrigado,

    Flávio Daniel

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