Busca nunca concluída, sempre sem resultados
Lúcio
Albuquerque
Consultor:
Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da
Academia
de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia
Em 2005 o funcionário público
Walter Bártolo (*) falou sobre o caso do tenente Fernando. E repetiu que estava
no acampamento quando o oficial saiu com duas pessoas para caçar um inambu, e
desapareceu. Foi a mais longa e detalhada narração sobre o sumiço, de todas que
o autor ouviu.
Ele contou que a comunicação
do desparecimento do oficial foi feita de imediato ao capitão Ênio Pinheiro,
comandante da 2ª Companhia Rodoviária Independente, e que só dois dias depois é
que chegou a primeira equipe para procurar.
“Eu
ainda vejo, 60 anos depois, o Marinho (sargento Antão Marinho) virar as pedras
do dominó em cima da mesa improvisada numas latas de querosene e entrar na mata
acompanhado do tenente Fernando”.
Em julho de 1945, quando o tenente Fernando
desapareceu, Walter Bártolo era cabo-motorista da 2a. Companhia Rodoviária
Independente, dirigindo um caminhão-tanque que levava combustível de Porto
Velho para a frente de serviço, então localizada a 45 KM da cidade, próximo à localidade
de São Pedro.
“Era
uma viagem de 45 quilômetros e quase um dia para chegar de um ao outro ponto,
ficando pior ainda quando chovia”, lembra Walter Bártolo, citando que os
caminhões de então estavam muito longe da tecnologia dos veículos atuais. A narrativa a seguir é do
próprio Walter Bártolo.
“O acampamento era no fim da linha, na
realidade uma picada aberta na selva e o núcleo mais próximo era o seringal
Caritiana, mas não havia estrada para lá”.
“As buscas foram grandes, feitas por tropas
do Exército ajudadas por mateiros da região, mas tudo em vão”. Segundo ele
foram feitos muitos esforços. “O governador Aluízio Ferreira conseguiu que
todos os aviões que pousavam em
Porto Velho fizessem sobrevoos na área onde o tenente sumira,
tudo em vão”.
“Se tentou de tudo. Um grupo de índios veio
fazer tratamento no hospital São José, em Porto Velho , e o
jornalista Carlos Mendonça, diretor do ALTO MADEIRA, entrevistou alguns e
garantiu ter ouvido deles que havia na selva um “homem das estrelas”, o que se
interpretou como sendo o tenente Fernando”.
“A tripulação de um avião da “Cruzeiro do
Sul” relatou ter visto, numa aldeia na região de Jaci-Paraná um homem branco e
alto que poderia ser o oficial. Houve buscas e nada confirmado.
Quando a matéria saiu na Imprensa, o capitão
Gerson, irmão do tenente Fernando, também oficial do Exército, veio a Porto
Velho à frente de um grupamento de
buscas que contava com uma equipe do 5o. Grupamento de Salvamento do exército
americano especializada em incursões na selva e praticamente passou direto para
a região de São Pedro (o jornalista Euro Tourinho garante que tentou, sem
conseguir, ir com o grupo, que foi para a região com enorme provisão de
equipamentos e armas, especialmente metralhadoras). “O grupo do capitão Gerson matou muito índio”, narrou Walter
Bártolo.
O
INQUÉRITO
Walter Bártolo continuou: “O Exército abriu
um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o desaparecimento do
oficial, tendo como presidente o major Levi. O Marinho, o Preto Pensador e um irmão do Pensador apanharam muito no
xadrez da 3a. Companhia. O major batia de murro de baixo para cima no queixo
deles que tiveram as unhas arrancadas com alicate, mas não contaram nada”.
Bártolo diz que dona Amatilde, mãe do
tenente Fernando, tentou intervir a favor do sargento Marinho. “Ela entrou no local do inquérito e
mostrando as cartas em que o Fernando dizia que o Marinho era o melhor amigo de
seu filho, pedia para o major parar a tortura”.
Ela, segundo Bártolo, mostrava as cartas e dizia: “Este homem é amigo do meu filho. Meu
coração de mãe me diz que ele não tem culpa”. De nada valeu. O sargento
Marinho foi mandado para Belém onde respondeu a processo na 8a. Região Militar.
(O historiador Abnael Machado garante ter
ouvido de uma pessoa, há poucos anos, que o sargento Antão Marinho às vezes era
visto perambulando pelas ruas de Belém, possivelmente embriagado, dizendo ter
sido ele quem matou o tenente Fernando).
Já no final da década de 50 um boliviano
conhecido apenas por Baltazar, apareceu dizendo ter visto o tenente Fernando
vivendo com índios da tribo Paakás-Novos, na região de Guajará Mirim. “Foram feitas novas buscas e outra vez nada
se comprovou. Tudo falso”, lembra Walter Bártolo.
Walter Bártolo encerra sua narrativa. Ele
diz não acreditar que o governador Aluízio Ferreira tenha tido qualquer
participação no desaparecimento do oficial. Prefere ficar com a tese de que o
envolvimento de Aluízio no caso tenha sido obra do grupo de oposição ao então
governador.
“Chegaram
a dizer que o Aluízio teria intervido para retardar o envio de uma equipe de
buscas, mas a demora aconteceu realmente porque estavam todos empenhados na
visita do embaixador americano”, acrescenta Walter.
Bártolo não acredita na tese de que o
oficial tenha desaparecido em razão da ameaça que a mãe-de-santo Esperança Rita
possa ter feito a ele. Nem que tenha sido assassinado ou que haja qualquer
envolvimento de uma disputa por uma mulher entre o oficial e o governador.
Para
Bártolo a opção mais correta do sumiço do tentende Fernando é que ele tenha
desaparecido sequestrado pelos índios boca-negra, para depurar a raça. “Há muitas citações de casos similares na
nossa região”, diz ele.
(*) – Walter Bártolo – seresteiro, funcionário público, ex-prefeito
de Ji-Paraná, ex-deputado estadual constituinte – 1983. Entrevista concedida em
sua residência, ao historiador Francisco Matias, aos jornalistas Adaídes – Dadá
– dos Santos, Fábio Só e ao repórter Lúcio Albuquerque
Amanhã
TENENTE
FERNANDO – 70 ANOS DESAPARECIDO (5)
As muitas versões de
um caso nunca explicado
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