sexta-feira, 25 de abril de 2014

TENENTE FERNANDO – 70 ANOS DESAPARECIDO (4)


Busca nunca concluída, sempre sem resultados


Lúcio Albuquerque

Consultor: Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da
Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia



Em 2005 o funcionário público Walter Bártolo (*) falou sobre o caso do tenente Fernando. E repetiu que estava no acampamento quando o oficial saiu com duas pessoas para caçar um inambu, e desapareceu. Foi a mais longa e detalhada narração sobre o sumiço, de todas que o autor ouviu.
Ele contou que a comunicação do desparecimento do oficial foi feita de imediato ao capitão Ênio Pinheiro, comandante da 2ª Companhia Rodoviária Independente, e que só dois dias depois é que chegou a primeira equipe para procurar.
“Eu ainda vejo, 60 anos depois, o Marinho (sargento Antão Marinho) virar as pedras do dominó em cima da mesa improvisada numas latas de querosene e entrar na mata acompanhado do tenente Fernando”.
Em julho de 1945, quando o tenente Fernando desapareceu, Walter Bártolo era cabo-motorista da 2a. Companhia Rodoviária Independente, dirigindo um caminhão-tanque que levava combustível de Porto Velho para a frente de serviço, então localizada a 45 KM da cidade, próximo à localidade de São Pedro.
“Era uma viagem de 45 quilômetros e quase um dia para chegar de um ao outro ponto, ficando pior ainda quando chovia”, lembra Walter Bártolo, citando que os caminhões de então estavam muito longe da tecnologia dos  veículos atuais. A narrativa a seguir é do próprio Walter Bártolo.
“O acampamento era no fim da linha, na realidade uma picada aberta na selva e o núcleo mais próximo era o seringal Caritiana, mas não havia estrada para lá”.
“As buscas foram grandes, feitas por tropas do Exército ajudadas por mateiros da região, mas tudo em vão”. Segundo ele foram feitos muitos esforços. “O governador Aluízio Ferreira conseguiu que todos os aviões que pousavam em Porto Velho fizessem sobrevoos na área onde o tenente sumira, tudo em vão”.
“Se tentou de tudo. Um grupo de índios veio fazer tratamento no hospital São José, em Porto Velho, e o jornalista Carlos Mendonça, diretor do ALTO MADEIRA, entrevistou alguns e garantiu ter ouvido deles que havia na selva um “homem das estrelas”, o que se interpretou como sendo o tenente Fernando”.
“A tripulação de um avião da “Cruzeiro do Sul” relatou ter visto, numa aldeia na região de Jaci-Paraná um homem branco e alto que poderia ser o oficial. Houve buscas e nada confirmado.
Quando a matéria saiu na Imprensa, o capitão Gerson, irmão do tenente Fernando, também oficial do Exército, veio a Porto Velho  à frente de um grupamento de buscas que contava com uma equipe do 5o. Grupamento de Salvamento do exército americano especializada em incursões na selva e praticamente passou direto para a região de São Pedro (o jornalista Euro Tourinho garante que tentou, sem conseguir, ir com o grupo, que foi para a região com enorme provisão de equipamentos e armas, especialmente metralhadoras). “O grupo do capitão Gerson matou muito índio”, narrou Walter Bártolo.
O INQUÉRITO
Walter Bártolo continuou: “O Exército abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o desaparecimento do oficial, tendo como presidente o major Levi. O Marinho, o Preto Pensador e um irmão do Pensador apanharam muito no xadrez da 3a. Companhia. O major batia de murro de baixo para cima no queixo deles que tiveram as unhas arrancadas com alicate, mas não contaram nada”.
Bártolo diz que dona Amatilde, mãe do tenente Fernando, tentou intervir a favor do sargento Marinho. “Ela entrou no local do inquérito e mostrando as cartas em que o Fernando dizia que o Marinho era o melhor amigo de seu filho, pedia para o major parar a tortura”.
Ela, segundo  Bártolo, mostrava as cartas e dizia: “Este homem é amigo do meu filho. Meu coração de mãe me diz que ele não tem culpa”. De nada valeu. O sargento Marinho foi mandado para Belém onde respondeu a processo na 8a. Região Militar.
(O historiador Abnael Machado garante ter ouvido de uma pessoa, há poucos anos, que o sargento Antão Marinho às vezes era visto perambulando pelas ruas de Belém, possivelmente embriagado, dizendo ter sido ele quem matou o tenente Fernando).
Já no final da década de 50 um boliviano conhecido apenas por Baltazar, apareceu dizendo ter visto o tenente Fernando vivendo com índios da tribo Paakás-Novos, na região de Guajará Mirim. “Foram feitas novas buscas e outra vez nada se comprovou. Tudo falso”, lembra Walter Bártolo.
Walter Bártolo encerra sua narrativa. Ele diz não acreditar que o governador Aluízio Ferreira tenha tido qualquer participação no desaparecimento do oficial. Prefere ficar com a tese de que o envolvimento de Aluízio no caso tenha sido obra do grupo de oposição ao então governador.
“Chegaram a dizer que o Aluízio teria intervido para retardar o envio de uma equipe de buscas, mas a demora aconteceu realmente porque estavam todos empenhados na visita do embaixador americano”, acrescenta Walter.
Bártolo não acredita na tese de que o oficial tenha desaparecido em razão da ameaça que a mãe-de-santo Esperança Rita possa ter feito a ele. Nem que tenha sido assassinado ou que haja qualquer envolvimento de uma disputa por uma mulher entre o oficial e o governador.
Para Bártolo a opção mais correta do sumiço do tentende Fernando é que ele tenha desaparecido sequestrado pelos índios boca-negra, para depurar a raça. “Há muitas citações de casos similares na nossa região”, diz ele.

(*) – Walter Bártolo – seresteiro, funcionário público, ex-prefeito de Ji-Paraná, ex-deputado estadual constituinte – 1983. Entrevista concedida em sua residência, ao historiador Francisco Matias, aos jornalistas Adaídes – Dadá – dos Santos, Fábio Só e ao repórter Lúcio Albuquerque

Amanhã 
TENENTE FERNANDO – 70 ANOS  DESAPARECIDO (5)

As muitas versões de um caso nunca explicado

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