SÍNDROME DA PRIMEIRA VEZ
(Ou vale tudo para puxar saco)
Lúcio Albuquerque (Conta-gotas setembro - 2011)
Nem contra e nem a favor. Quando perguntam qual o conceito
que posso dar sobre esses 9 meses de governo da senhora Dilma, respondo que
está na hora do governo nascer efetivamente e ganhar cara própria. Porque até
agora tem muito do passado ficando para nós outra síndrome, a “síndrome do que
vai acontecer amanhã”, pelas defenestrações seguidas de ministros, a sensação
de que ainda vem mais coisa por aí.
Mas interessante mesmo é o festival de bajulação que tenho
ouvido nos últimos dias, com relação ao fato da senhora Dilma ter feito o
discurso de abertura do ano de sessões da ONU. Até de pessoas que eu supunha, pelo
alardeamento de terem um nível acadêmico maior que a maioria, nunca iriam
chegar às raias da louvação que tenho ouvido.
É o que chamo de “síndrome da primeira vez”, tão comum em
muitos jovens da minha época de jovem, e que agora enche de orgulho os peitos
daqueles que aproveitam qualquer coisa para louvar, apenas porque se comportam
como autênticos áulicos, cometendo até erros históricos como ainda nesta
quarta-feira foi lembrado, nessa questão da “síndrome da primeira vez” que a
mãe do governador de Pernambuco, aprovada para ser ministra do TCU seria a
primeira mulher a ocupar uma cadeira ali.
Quem noticiou isso se esqueceu de uma coisa, que Élvia
Lordello Castello Branco foi ministra do TCU na década de 1980, faz pouco
tempo, mas para quem gosta de elogiar o que importa é o “agora”, ainda que,
agindo dessa forma, exponha-se ao ridículo e atropele a história.
Voltemos à senhora Dilma e por qual motivo ela foi a primeira mulher a falar na sessão de abertura da ONU,
motivo de tanta louvação entre aqueles quoutro país?e sempre louvam quem esteja no Poder.
Uma turma para a qual “o melhor chefe é sempre o próximo”. Simples: historicamente é o Brasil que abre a sessão da ONU. E porque o Brasil e não outro país?
Segundo Ricardo André de Vasconcelos, em seu blog ricandrevasconcelos.blogspot.com, tudo começou com
a briga entre Estados Unidos e União Soviética. Mas, leia sua explicação:
“A primeira reunião preparatória da ONU se realizara em Londres,
em 7 de janeiro de 1946, destacando-se na delegação brasileira Ciro de Freitas Valle, então embaixador no
Canadá, deslocado para Londres depois de ter assistido à assinatura da Carta em São Francisco.
Embaixador Ciro Valle, comemorando 70 anos no consulado brasileiro em Nova York
Ora, convenhamos: antes da senhora Dilma outras mulheres
fizeram ouvir suas vozes nas reuniões da ONU, mulheres muito mais importantes que a senhora presidente brasileira: Indira Gandhi, Golda Meir, Margarete Thatcher.
O único diferencial é que a senhora
Dilma abriu o ano de conferências da Organização, o que não representa nenhum
degrau a mais galgado pelas mulheres, como alguns apregoam. Apenas seguem a tradição inaugurada por Ciro de Freitas Valle.
O fato da última quarta-feira foi a apenas a coincidência
de, pela primeira vez, termos uma mulher na presidência do país que, só por
esperteza de um membro da delegação brasileira em 1946, acabou sendo a primeira representante do sexo feminino a fazer o discurso de abertura.
Nada de mais nem que os áulicos de sempre o queiram.
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