quinta-feira, 1 de maio de 2014

DATAS DE RONDÔNIA

1, 2 E 3 DE MAIO

Dia 1 – Em 1925 – A Bula Pontifícia  cria a prelazia de Porto Velho, tendo como bispo dom Pedro Massa, sediado em Manaus. A prelazia ficou sob responsabilidade do padre Antonio Carlos Peixoto, que assumiu em 1925 (Antonio Cantanhede, Achegas para a História de Porto Velho)
Dia 2 – Em 1931 – O tenente Aluízio Pinheiro Ferreira é nomeado pelo Governo Federal para ser o comandante do Contingente Regional anexo à Comissão de Linhas Telegráficas com sede em Santo Antonio - então Estado de Mato Grosso (Antonio Cantanhede, Achegas para a História de Porto Velho)
Dia 3 – Em 1917 – Lançada a pedra fundamental para construir uma igreja católica em Porto Velho (Antonio Cantanhede, Achegas para a História de Porto Velho)

Dia 3 – Em 1921 – Um grupo de jovens apresenta a peça teatral No Paiz do Ouriço, a primeira do gênero em Porto Velho, no cine teatro Phenix  - Rua da Palha, atual Natanael de Albuquerque (Jornal Alto Madeira). A senhora Labibe Bartolo, então com 13 anos, participou desse grupo teatral. Ela faleceu em 1912.

ALAGADOS JÁ GANHARAM OUTRA OPORTUNIDADE

Dona Gilsa Guedes

(Coluna Conta-gotas – agosto 2007)

O jornalista Montezuma Cruz me rebate à notícia do 1º ano de falecimento do jornalista Paulinho Correia, com outra notícia desagradável: faleceu em Brasília, vítima de um forte acidente vascular cerebral (AVC) a senhora Gilsa Auvray Guedes.
Foi dia 3 de agosto, mas com certeza se alguém soube por aqui deve ter guardado bem a (infausta) notícia: liguei para duas pessoas que trabalharam diretamente com o governador Humberto Guedes, marido de dona Gilsa, e eles não sabiam da ocorrência, o jornalista Ciro Pinheiro e o secretário do gabinete da presidência do Tribunal de Contas Jader Moreira Pinto.
Dona Gilsa conversando com Roberto Carlos na única vinda dele a Porto Velho.
Ao lado o jornalista Ciro Pinheiro

Para quem não lembra, ou para quem não sabe, dona Gilsa era esposa do governador que plantou as bases para que Rondônia deixasse de ser Território e desse lugar ao Estado, o coronel Humberto da Silva Guedes, que governou o Território de junho de 1975 a abril de 1979, uma figura que precisa ser melhor lembrada na historiografia rondoniense.
Mas não estou aqui para falar do ex-governador, apesar de reconhecer que se somos Estado temos muito a agradecer a ele, à percepção que ele teve de que Rondônia não cabia mais na condição de Território. A intenção é falar sobre dona Gilsa, em cuja casa, em Brasília, estive em 2005, em companhia dos jornalistas Montezuma Cruz e José Carlos Sá, para uma entrevista com o ex-governador - ela estava viajando.
Eu não tinha relação maior que de repórter com fonte de informação com
dona Gilsa, mas nunca deixei de admirar a vontade que ela demonstrava
de ajudar outras pessoas, podendo citar dois fatos, um o empenho dela no atendimento a pessoas humildes no único hospital de então, o São José (hoje policlínica da PM), quando, o testemunho foi de um médico, chegou a se atritar com alguns desses profissionais na ânsia de ajudar doentes.
Foi dela a inspiração para criar o bairro Pedacinho de Chão, em Porto
Velho, quando, literalmente, saiu pedindo ajuda de comerciantes e outras pessoas para doar materiais necessários a que as famílias que foram deslocadas para ali tivessem, pelo menos, meios para iniciar a nova vida.
Na grande enchente de 1977, quando o Ramal São Domingos, aquele tre
cho do bairro do Triângulo que comumente alaga, foi tomado pelas águas, dona Gilsa ia de canoa, de casa em casa de alagado oferecer ajuda, fato que me surpreendeu, não pela oferta de ajuda, mas por encontrar a esposa de um governador, sem qualquer assessoria apenas dois remadores, numa canoa comum, fazendo aquele trabalho.
Ela ia à casa de cada família propor que se mudassem para o novo bairro, àquela altura muito distante do centro da cidade e com todos os problemas decorrentes da falta de estrutura, da água que não tinha à inexistência de linha de ônibus. 
Inspirada numa telenovela, dona Gilsa batizou o novo núcleo que estava
nascendo em Porto Velho com o nome da série, Meu Pedacinho de Chão,
que já “nasceu” com áreas definidas para igreja, colégio, escola infantil,
mercado - se não me engano com seu traço urbano desenhado pelo prefeito Antonio Carlos Cabral Carpintero. O novo bairro surgia pensado para o futuro, como a cidade de Ariquemes, também da prancheta de 
Carpintero, mostrando que planejamento era fato comum  na administração de Humberto Guedes.
Prefiro lembrar das pessoas como as vi, como as conheci. Dona Gilsa,
sempre que sua figura vem à minha mente, lembro dela sentada na canoa (e é dessa forma que vou continuar lembrando), visitando as famílias em meio à alagação, cena que surpreendeu outro jornalista da época - e futuro presidente da Assembléia Legislativa - o professor Amizael Silva, também já falecido, que, ele pelo O Guaporé e eu pelo Alto Madeira, mas na mesma canoa, estávamos no local fazendo reportagem sobre a alagação.
Dizer ao governador Guedes e sua família dos meus sentimentos, é fato
real. Mas eu precisava também expor do respeito que sempre tive pela
dona Gilsa.

PS  - Texto publicado agora numa homenagem à senhora Gilsa Guedes, que buscou uma solução digna para os moradores da área alagada e que, mesmo recebendo os lotes e as casas preferiram voltar para a alagação, muitos deles vendendo o que receberam de graça.


quarta-feira, 30 de abril de 2014

TENENTE FERNANDO – SETENTA ANOS DESAPARECIDO (7)


As mudanças que o tenente não viu.

Lúcio Albuquerque

Consultor: Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da Academia de Letãs e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia

O tenente Fernando não demorou muito tempo em Porto Velho. Poucos meses, há quem diga menos de dois, mas acabou inserido, certamente sem o querer,  na historiografia local por razões que ele, certamente, nunca imaginou e nem iria querer.
Mas desapareceu sem deixar vestígios. E porque sumiu daquela maneira, nunca explicada, ele não soube de coisas que aconteceram em seguida, com sua geração, com seus amigos.
Para um jovem recém saído da Escola Militar, e de uma cidade grande, o Rio de Janeiro, àquela altura capital da República, vir para Porto Velho, distante e minúscula, com todos os tabus de cidades pequenas, deve ter sido um choque imenso.
Acostumado com o mar, e a outros lazeres comuns às cidades grandes de então, e o Rio de Janeiro era o grande centro político, cultural e esportivo do Brasil dos anos 1940, com certeza ele sofreu muito, e talvez nem tenha tido tempo de se adequar à realidade que passou a viver.
Bom dançarino, risonho, amigo de todos – fato reconhecido até mesmo por alguns ferrenhos “aluizistas”, o tenente Fernando acabou se destacando no pequeno meio social local.
Dentre seus companheiros de farda, uma amizade logo se destacou, a que fez com o sargento Antão Marinho, também da 2a. Rodoviária e que foi com ele e um contingente para a frente de serviço em São Pedro, e com quem sairia para caçar no dia em que desapareceu. Marinho, depois, foi acusado de ter participado do desaparecimento do oficial.

O QUE O TENENTE NUNCA SOUBE
O mundo que o tenente Fernando nunca viu foi muito diferente daquele em que ele viveu o último dia em que almoçou no acampamento da 2ª Rodoviária Independente, e saiu para caçar.
Por exemplo, o Tenente Fernando não soube da senhora Enola Gay, que teve pintado o nome dela na fuselagem de um avião B-29 comandado pelo seu filho Paul Tibbet  que lançou no dia 6 de agosto, sobre Hiroshima/Japão, a primeira bomba atômica empregada sobre uma cidade, e que, a partir de então, o mundo nunca mais seria o mesmo, ou que tudo isso aconteceria oito dias depois daquele domingo, 29 de julho, em que o oficial do Exército saiu do acampamento onde se encontrava, na frente de serviço da 2ª Companhia Rodoviária Independente que abria a estrada Amazonas/Mato Grosso, para caçar um inambu.
O tenente Fernando também nunca soube o resultado do campeonato carioca de futebol daquele ano, nem que seu time de coração, o Flamengo, sob a batuta do “Dotô Rubis” seria novamente campeão.
Em Porto Velho ele também nada soube do Ypiranga, clube criado em 1919, que naquele ano ganharia o primeiro campeonato de futebol promovido pela Federação de Desportos do Guaporé, do recém-instalado Território Federal do Guaporé.
Nem da professora Carolina Gardênia Rebelo de Figueiredo, a primeira mulher de Rondônia a ser brevetada como piloto de avião pelo aeroclube que funcionava no aeroporto do Caiari em 1947,e também a primeira local a pilotar uma aeronave, na viagem até Guajará-Mirim.
Nem que o município de Santo Antonio do Alto Madeira deixaria de existir, naquele ano de 1945, e suas terras seriam incorporadas a Porto Velho, porque isso aconteceu só a 17 de outubro daquele ano.
Ele nunca mais veria sua mãe que, após seu desaparecimento, veio a Porto Velho e, em sua homenagem, o  seu motorista, soldado e poeta Walter Bártolo compôs uma música, “Mãe sofredora” que, mais tarde ele cantaria inclusive no programa do Chacrinha, no Rio de Janeiro.
Nem que seus pais vieram a Porto Velho onde fizeram uma peregrinação visitando pessoas que conheceram seu filho, ou que ela depositou uma foto dele em cada altar da igreja do Sagrado Coração de Jesus.
Ou que, num gesto de  coragem, conforme narrou o próprio Bártolo, designado motorista dos pais do oficial, sua mãe, ao saber que uma pessoa citada em cartas pelo seu filho como um grande amigo,  e que estava sendo torturado  pelos que vieram tentar encontrá-lo,  pediu que parassem com aquilo porque não acreditava  que a pessoa submetida a tortura tivesse participado do desaparecimento.
O tenente, porque desapareceu naquele 29 de julho de 1945, nunca  soube que esse fato acabaria se transformando em seguidas citações políticas nas disputas eleitorais do Território Federal do Guaporé e daí em diante, na luta entre os aluizistas, cutubas, e os adversários, peles-curtas, e que  70 anos depois de sumir esse fato ainda seria tratado como um tabu por pessoas ligadas aos cutubas.
E ainda que seu desaparecimento suscitaria tantas versões, algumas descabidas, e que seu comandante na 2ª Independente, o então capitão Ênio Pinheiro, em 1997 já general da reserva, surpreenderia os membros do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia de Letras de Rondônia com citações que os participantes não compreenderam bem.
Porque desapareceu naquele domingo, o Tenente Fernando nunca soube que 15 anos depois um presidente, que fora militar também, mandaria abrir a rodovia Cuiabá-Porto Velho.
E  que cinco anos depois, em 1965, o presidente Castelo Branco criaria uma unidade de engenharia do Exército, o 5º Batalhão de Engenharia e Construções que ficaria responsável pela manutenção aberta da rodovia que depois passou a ser identificada por BR-29.
Também ele nunca soube que pouco mais de um ano depois de seu desaparecimento o governador Aluízio Ferreira, contra quem a oposição lançou fortes suspeitas de envolvimento no caso, seria eleito como primeiro deputado federal do Território.
Finalmente, o tenente Fernando nunca soube que alguns de seus colegas de turma seriam, 20 anos depois, atores principais do movimento militar de 1964.

Amanhã:
TENENTE FERNANDO – 70 ANOS DESAPARECIDO (8)

Até um padre participou das buscas na selva
TENENTE FERNANDO – 70 ANOS  DESAPARECIDO (6)
As muitas versões de um caso nunca explicado
Lúcio Albuquerque

Consultor: Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da
Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia


versões para todos os gostos para explicar – ou será para confundir? – o desaparecimento do tenente Fernando Gomes de Oliveira, na tarde de domingo, 29 de julho de 1945. Apesar de todas as varreduras feitas por tropas do Exército com apoio de mateiros, de boatos de toda a ordem, só se tem certeza de duas coisas.
1 – O tenente Fernando desapareceu.
2 – Ninguém tem uma versão definitiva sobre como ele sumiu.
Todas as versões geraram uma confusão que qualquer investigador não teria muitas linhas de trabalho para definir como a coisa aconteceu. O jornalista Euro Tourinho, do jornal Alto Madeira, descarta uma delas, a de que o oficial sumiu para que se concretizasse a ameaça que teria sido feita pela Mãe de santo Esperança Rita que, ao ter seu terreiro praticamente destruído pela patrulha comandada pelo tenente Fernando, teria dito que ele iria pagar.
“Essa versão de que tudo foi um castigo dos orixás não tem fundamento”, disse Euro ao falar do assunto, mas uma importante figura religiosa garante que “os encantados da floresta podem ter cumprido a ameaça de Mãe Esperança”.
O GENERAL ÊNIO PINHEIRO

Fazia 51 anos que o tenente-engenheiro do Exército Fernando Gomes de Oliveira, sumira nas selvas na região de São Pedro.

Em 1997, por ocasião do centenário do nascimento do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira, o general Ênio Pinheiro, sem que ninguém o provocasse, perante membros da Academia de Letras de Rondônia em reunião no gabinete do vice-governador Aparício Carvalho e na presença do governador Valdir Raupp, negou que Aluízio tenha tido algo com o desaparecimento daquele oficial. A citação pegou de surpresa os participantes e causou algum mal-estar.
(Mais ou menos como quando você chega em casa e seu filho lhe diz: - Não fui eu quem quebrou o jarro. Ninguém perguntou)
Mas, para entender o que aconteceu, é preciso voltar no tempo e se situar numa época já distante, quando Porto Velho tinha menos de 6 mil habitantes e quem mandava e desmandava, sem contestação, era o governador Aluízio Pinheiro Ferreira.
Naquela época, de comunicação rápida só havia o telégrafo cujas cópias, dizem os mais antigos, se tratasse de assunto de interesse do governador de plantão ia primeiro para ele ler. A Justiça era representada por um juiz, quando havia, e se vivia num período de exceção sob a ditadura de Vargas, amigo de Aluízio Ferreira.
Poucos historiadores locais – afora a professora e historiadora Yêda Borzacov – se aprofundam no caso do tenente Fernando, apesar da repercussão na Imprensa nacional que chegou a mandar a Porto Velho repórteres de primeira linha, dando ao fato uma cobertura enorme, como fez a revista O Cruzeiro. Além disso, o Exército fez diversas varreduras na região onde o oficial desapareceu, inclusive utilizando-se aviões militares e comerciais, tentando sua localização, sem nenhum resultado.
Quem mais se estende sobre o assunto é o (então) capitão Ênio Pinheiro, primo de Aluízio e, àquela altura, comandante da 2a. Companhia Rodoviária Independente e chefe imediato do tenente Fernando, no livro “À sombra de Rondon e Juarez”, em que Ênio narra sua trajetória como oficial da arma de Engenharia do Exército.
Mas também não oferece qualquer linha positiva para uma investigação 70 anos depois.
VERSÕES
O oficial teria sido sequestrado pelos índios Boca-Negra para servir de reprodutor e apurar a raça da tribo
O oficial teria sido vítima de um atentado por pessoas ligadas ao governador
O oficial teria se perdido na mata
O oficial teria sumido num buraco da selva 
O oficial teria sido vítima do ataque de algum animal
O oficial teria sido jogado num rio, amarrado a uma pedra

O oficial teria sido vítima da maldição a ele atirada por uma mãe-de-santo do terreiro Santa Bárbara porque teria, ao comandar uma patrulha do Exército, invadido locais sagrados e quebrado imagens (*).

 Há alguns anos uma mulher teria se apresentado ao historiador Francisco Matias, dizendo ser neta do tenente Fernando e contando que, depois de se perder na selva ele teria seguido em frente até chegar à cidade de Xapuri (AC), onde constituíra família, mas não se pode confirmar a estória ouvida por Matias.

(*) Segundo uma fonte ouvida pelo autor o espírito do tenente Fernando teria se apresentado durante uma sessão num terreiro e pedido desculpas, mas uma importante autoridade dessa religião disse desconhecer o fato.



Amanhã

TENENTE FERNANDO – SETENTA ANOS DESAPARECIDO (7)

As mudanças que o tenente não viu.

domingo, 27 de abril de 2014

TENENTE FERNANDO - 70 ANOS DESAPARECIDO (5)


HISTORIADOR DIZ HAVER OUTROS CASOS MISTERIOSOS

Lúcio Albuquerque

Consultor: Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da Academia de Letãs e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia


Membro fundador da Academia de Letras e do Instituto Histórico em Geográfico de Rondônia, colunista do jornal Alto Madeira e do site gentedeopiniao.com.br, o professor aposentado de História e Geografia da Amazônia, Abnael Machado de Lima disse, em coluna publicada a 4 de julho de 1912, que o sumiço do tenente Fernando Gomes de Oliveira é outro “lamentável episódio” dentre outros ocorridos em nossa Rondônia, “convenientemente transformados em inexplicáveis mistérios, dentre eles”.
O súbito falecimento do Peixotinho, Diretor dos Correios e Telégrafos, na residência do major Aluízio Pinheiro Ferreira, Superintendente da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, ao sorver uma xícara de café, quando deste foi se despedir na véspera de viajar a Manaus, para depor no inquérito policial militar sobre o pagamento com dinheiro falso os serviços hospitalares prestados aos ferroviários pelo Hospital São José, denunciado pelo Padre João Nicoletti, seu diretor. O Peixotinho alardeava que iria expor a verdade. Atestado de óbito: Fulminante colapso cardíaco.
O desaparecimento, sem deixar vestígios, de 70 (setenta) italianos contratados pela empresa P & T Collyn, para a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, os quais revoltados com a empresa, a abandoná-la adentrando à noite à floresta da margem esquerda do Rio Madeira, com o propósito de alcançarem a República da Bolívia, jamais foram vistos.
O assassinato do engenheiro João de Deus funcionário da Ceron, foi meu aluno, na véspera de viajar a Brasília, onde entregaria aos competentes órgãos um dossiê de sua autoria sobre as irregularidades nos serviços realizados em Ji-Paraná, por uma empresa contratada pela Ceron, exigindo a devolução do pagamento efetuado e o cancelamento do contrato.
O assassinato do Senador da República Olavo Pires, metralhado diante de grande quantidade de pessoas, quando chegava ao prédio sede do seu comitê eleitoral situado na avenida Jorge Teixeira, uma das mais movimentadas da capital. Estava cotado para ser eleito governador do Estado. O autor do crime e os seus mandantes, tornaram-se mistério, virou novela reprisada em cada campanha eleitoral.


O desaparecimento do tenente Fernando
O Tenente Fernando Gomes De Oliveira, jovem engenheiro militar, chegou em Porto Velho como membro da 2ª Companhia Rodoviária Independente, em 1945, sob o comando do Capitão Ênio Dos Santos Pinheiro, incumbida de dar prosseguimento à construção da rodovia Amazonas/Mato Grosso, iniciada em 1º de agosto de 1932, pelo então Tenente do Exército Aluízio Pinheiro Ferreira, Diretor da ferrovia Madeira-Mamoré, alcançando são Pedro do Rio Preto, à 90Km de Porto Velho, sendo paralisada na primeira década de 1940, por falta de recursos financeiros.
Para comandar o destacamento de São Pedro foi designado o Tenente Fernando, o qual numa tarde de domingo penetrou na floresta para caçar, acompanhado pelo cabo Antão e um soldado, sendo a última vez que foi visto, desaparecendo misteriosamente e para sempre no interior da densa floresta. Segundo seus acompanhantes, previamente eles combinaram que cada um seguiria uma direção e se reencontrariam na rodovia após o prazo de quatro horas de caçadas. Conforme o combinado o primeiro a sair da floresta foi o soldado, em seguida o cabo Antão. Aguardaram mais de uma hora e como o Tenente não apareceu, julgaram que ele teria ido para o acampamento sem os esperar. Dirigiram-se para este, não o encontrando, concluíram haver se perdido. Conforme narrou o Walter Bártolo que, como soldado, foi testemunha dos acontecimentos no acampamento, os dois acompanhantes entregaram suas armas para serem examinadas, comprovando não terem sido usadas. O Subcomandante comunicou o fato via telégrafo ao Comandante da Companhia em Porto Velho, onde se organizou grupos de buscas compostos por militares e civis iniciando-se a procura em todas as direções: na floresta, nas margens do rio e ao longo da estrada, retornando cada um à noite quando não havia mais visibilidade. O ambiente era de inquietação e pesar.
As buscas continuaram por conta do Exército apoiado pela Aeronáutica. Das expedições participando o Capitão Gerson Gomes De Oliveira irmão do desaparecido, militares e jornalistas norte-americanos, o Padre Jose Francisco Pucci (Padre Chiquinho) e o seringalista João Chaves sem encontrarem o menor vestígio do Tenente Fernando.
As mais absurdas hipóteses e descabidas invencionices foram aventadas para explicarem o desaparecimento, tais como:
Teria sido morto e ocultado o seu cadáver, por ordem do major Aluizio Pinheiro
Ferreira, por ter o Tenente seduzido uma das suas muitas amantes; ou por ter impedido o embarque de um dos tratores da companhia, com destino a uma mineração aurífera, no Pará, da qual o Major Aluizio era sócio; teria sido engolido por uma sucuri; teria sido transposto para outra dimensão pelos orixás em represália por ter ele ,com seus amigos, espancado os filhos e filhas de santos, furado os atabaques e conspurcado o santuário (Pegi), do Terreiro de Santa Bárbara da Mãe de Santo, Rita Esperança; teria subido numa árvore e nesta como se estivesse dopado, alheio ao tempo e aos movimentos em seu entorno, morreu de inanição (Otaviano Cabral no livro de sua autoria "História de uma Região); teria sido morto por dois irmãos agricultores moradores nas proximidades do acampamento, os quais foram presos e torturados, confessando terem matado o Tenente, o confundido com uma anta. Removidos de Porto Velho para Belém a Auditoria Militar mediante tão estapafúrdia confissão e o método empregado para sua obtenção, os inocentaram devolvendo-os livres para sua morada na floresta; teria sido raptado pelos índios Boca-Negra para servir de reprodutor. Noticiaram em 1948 os jornais de são Paulo e do Rio de Janeiro; teriam indígenas raptado o Tenente Fernando para apurar a raça (Jornal “O Globo” em 15 de outubro de 1957); teria sido vítima de uma queda num fosso dos muitos existentes na floresta, dos quais a pessoa fica impossibilitada de por si própria alcançar a superfície, como também de ser encontrada (General Ênio dos Santos Pinheiro, ex-comandante da 2ª Rodoviária Independente em um encontro informal em 1997, na Vice Governadoria Estadual no qual me encontrava).
A pesquisadora Wanda Hanke, após contatar moradores dos vales dos rios Preto, Branco e Jamari, nas adjacências do funesto episódio, escreveu sobre o Tenente Fernando: “Em verdade foi vítima de vingança de certos brancos”. (Desbravadores, 2ª edição, 2º volume, página 245, autor Vitor Hugo)”.


Amanhã: As muitas versões de um caso nunca explicado

SEU BENU

AUSÊNCIA DA INEXISTÊNCIA

O material foi passado ao seu Benu pelo jornalista Ciro Pinheiro, do jornal Alto Madeira. Era um ofício de julho de 2007 encaminhado ao jornalista pela Superintendência Estadual de Turismo, de Rondônia, onde era explicada a razão de não ter havido a reunião prevista.
Com nossos cumprimentos, comunicamos que a reunião agendada para o dia 10 de julho fica cancelada, face à ausência da  inexistência de pauta”.

Seu Benu quer que o redator explique o que significa ausência da inexistência.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

TENENTE FERNANDO – 70 ANOS DESAPARECIDO (4)


Busca nunca concluída, sempre sem resultados


Lúcio Albuquerque

Consultor: Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da
Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia



Em 2005 o funcionário público Walter Bártolo (*) falou sobre o caso do tenente Fernando. E repetiu que estava no acampamento quando o oficial saiu com duas pessoas para caçar um inambu, e desapareceu. Foi a mais longa e detalhada narração sobre o sumiço, de todas que o autor ouviu.
Ele contou que a comunicação do desparecimento do oficial foi feita de imediato ao capitão Ênio Pinheiro, comandante da 2ª Companhia Rodoviária Independente, e que só dois dias depois é que chegou a primeira equipe para procurar.
“Eu ainda vejo, 60 anos depois, o Marinho (sargento Antão Marinho) virar as pedras do dominó em cima da mesa improvisada numas latas de querosene e entrar na mata acompanhado do tenente Fernando”.
Em julho de 1945, quando o tenente Fernando desapareceu, Walter Bártolo era cabo-motorista da 2a. Companhia Rodoviária Independente, dirigindo um caminhão-tanque que levava combustível de Porto Velho para a frente de serviço, então localizada a 45 KM da cidade, próximo à localidade de São Pedro.
“Era uma viagem de 45 quilômetros e quase um dia para chegar de um ao outro ponto, ficando pior ainda quando chovia”, lembra Walter Bártolo, citando que os caminhões de então estavam muito longe da tecnologia dos  veículos atuais. A narrativa a seguir é do próprio Walter Bártolo.
“O acampamento era no fim da linha, na realidade uma picada aberta na selva e o núcleo mais próximo era o seringal Caritiana, mas não havia estrada para lá”.
“As buscas foram grandes, feitas por tropas do Exército ajudadas por mateiros da região, mas tudo em vão”. Segundo ele foram feitos muitos esforços. “O governador Aluízio Ferreira conseguiu que todos os aviões que pousavam em Porto Velho fizessem sobrevoos na área onde o tenente sumira, tudo em vão”.
“Se tentou de tudo. Um grupo de índios veio fazer tratamento no hospital São José, em Porto Velho, e o jornalista Carlos Mendonça, diretor do ALTO MADEIRA, entrevistou alguns e garantiu ter ouvido deles que havia na selva um “homem das estrelas”, o que se interpretou como sendo o tenente Fernando”.
“A tripulação de um avião da “Cruzeiro do Sul” relatou ter visto, numa aldeia na região de Jaci-Paraná um homem branco e alto que poderia ser o oficial. Houve buscas e nada confirmado.
Quando a matéria saiu na Imprensa, o capitão Gerson, irmão do tenente Fernando, também oficial do Exército, veio a Porto Velho  à frente de um grupamento de buscas que contava com uma equipe do 5o. Grupamento de Salvamento do exército americano especializada em incursões na selva e praticamente passou direto para a região de São Pedro (o jornalista Euro Tourinho garante que tentou, sem conseguir, ir com o grupo, que foi para a região com enorme provisão de equipamentos e armas, especialmente metralhadoras). “O grupo do capitão Gerson matou muito índio”, narrou Walter Bártolo.
O INQUÉRITO
Walter Bártolo continuou: “O Exército abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o desaparecimento do oficial, tendo como presidente o major Levi. O Marinho, o Preto Pensador e um irmão do Pensador apanharam muito no xadrez da 3a. Companhia. O major batia de murro de baixo para cima no queixo deles que tiveram as unhas arrancadas com alicate, mas não contaram nada”.
Bártolo diz que dona Amatilde, mãe do tenente Fernando, tentou intervir a favor do sargento Marinho. “Ela entrou no local do inquérito e mostrando as cartas em que o Fernando dizia que o Marinho era o melhor amigo de seu filho, pedia para o major parar a tortura”.
Ela, segundo  Bártolo, mostrava as cartas e dizia: “Este homem é amigo do meu filho. Meu coração de mãe me diz que ele não tem culpa”. De nada valeu. O sargento Marinho foi mandado para Belém onde respondeu a processo na 8a. Região Militar.
(O historiador Abnael Machado garante ter ouvido de uma pessoa, há poucos anos, que o sargento Antão Marinho às vezes era visto perambulando pelas ruas de Belém, possivelmente embriagado, dizendo ter sido ele quem matou o tenente Fernando).
Já no final da década de 50 um boliviano conhecido apenas por Baltazar, apareceu dizendo ter visto o tenente Fernando vivendo com índios da tribo Paakás-Novos, na região de Guajará Mirim. “Foram feitas novas buscas e outra vez nada se comprovou. Tudo falso”, lembra Walter Bártolo.
Walter Bártolo encerra sua narrativa. Ele diz não acreditar que o governador Aluízio Ferreira tenha tido qualquer participação no desaparecimento do oficial. Prefere ficar com a tese de que o envolvimento de Aluízio no caso tenha sido obra do grupo de oposição ao então governador.
“Chegaram a dizer que o Aluízio teria intervido para retardar o envio de uma equipe de buscas, mas a demora aconteceu realmente porque estavam todos empenhados na visita do embaixador americano”, acrescenta Walter.
Bártolo não acredita na tese de que o oficial tenha desaparecido em razão da ameaça que a mãe-de-santo Esperança Rita possa ter feito a ele. Nem que tenha sido assassinado ou que haja qualquer envolvimento de uma disputa por uma mulher entre o oficial e o governador.
Para Bártolo a opção mais correta do sumiço do tentende Fernando é que ele tenha desaparecido sequestrado pelos índios boca-negra, para depurar a raça. “Há muitas citações de casos similares na nossa região”, diz ele.

(*) – Walter Bártolo – seresteiro, funcionário público, ex-prefeito de Ji-Paraná, ex-deputado estadual constituinte – 1983. Entrevista concedida em sua residência, ao historiador Francisco Matias, aos jornalistas Adaídes – Dadá – dos Santos, Fábio Só e ao repórter Lúcio Albuquerque

Amanhã 
TENENTE FERNANDO – 70 ANOS  DESAPARECIDO (5)

As muitas versões de um caso nunca explicado